quarta-feira, 20 de abril de 2011

Cavalo de cabo de vassoura

Não, não era o Cavalo de Fogo. Não, não era o cavalo Branco do Napoleão. Não, não era o Cavalo de Tróia. Não, não era um Cavalo de Raça. Muito menos o mitológico Pégasos. Sequer era o burrinho do Shrek ou mesmo a Uni da Caverna do Dragão. Era apenas um cavalo de cabo de vassoura. Apenas isso, um cavalo de cabo de vassoura.

Ele foi criado pela imaginação latente dele, que banhada numa magia impar, lhe deu vida (vida?). Foi seu melhor meio de transporte, porque tinha como principal frase: “Não há distância que eu não possa enfrentar. Não preciso de água, preciso de você”. Esse combustível deu muito mais do que sentido para sua existência. Deu muito mais do que razão para que ele iniciasse a sua caminhada. Mas ele era apenas um cavalo de cabo de vassoura e como tal, não poderia ter se animado tanto.

As condições sob as quais vivia, naquele reino maravilhoso, onde não havia mirante, castelo, palácio, ou qualquer coisa que superasse a beleza da torre pela qual se encantou, eram as melhores para sua atuação. Aquela, não era apenas a torre mais bonita do reino. Era a torre mais bonita de todo o universo, seja ele conhecido ou não. Seja ele palpável ou existente apenas na mente de alguns. Era a torre da qual ele havia desenhado em seus sonhos, ainda mesmo quando ocupava lugar em uma vassoura e sua cabeça era apenas uma cartolina esticada em algum armário. Era a torre. E ele? Ah, ele sabia disto.

Mas ele era apenas um cavalo de cabo de vassoura.

O início, o meio ou o fim de tudo, depende de onde se olha, aconteceu naquele dia 27 de fevereiro. Ele estava com os pêlos em riste. Estava sendo desafiado, estava sendo ousado a quebrar protocolos, a sua existência estava sendo colocada à prova. Diga-se de passagem, por ele mesmo. Era ele quem havia se cobrado daquilo. Era ele que havia sentido a necessidade de vê-la. Havia sentido uma necessidade tão forte de tocar a sua torre, de surpreendê-la, de amá-la, de ver seus olhos e seu sorriso. E, num rompante de loucura (amor, desejo, vida, paixão, felicidade, magia, encantamento, burrice, por que não?) enfrentou o tempo. Essa era a única coisa que tinha direito de fazer. Como era apenas um cavalo de cabo de vassoura, sua existência efêmera poderia desafiar o tempo. Esse, só existe de fato para aqueles que possuem relógio e que têm hora para fazer as coisas. Ele, não. Um cavalo de cabo de vassoura não se preocupa com o horário. Não se preocupa com as idas e vindas. Aí ele cometeu um erro (erro?). Ele não estava em seus domínios. Não tinha seus materiais à mão. Tinha apenas uma peça de roupa e esta, tinha um lindo desenho. O desenho de um cavalo mágico. O desenho de um cavalo que ajudou um santo a derrotar um dragão. E ele se sentiu.

No caminho pareceu voar. Pensou em suas asas. Mas ele não era alado, era apenas um cavalo de cabo de vassoura. Parecia voar porque era leve e o vento causava essa ilusão. Seus pêlos estavam em riste, mas era apenas a cartolina ao vento. Parecia correr muito, mas era apenas a ausência do tempo, só isso. E ele se sentiu mágico. Sentiu-se um cavalo. Mas ele era apenas um cavalo de cabo de vassoura.

E quanto mais ele andava pelo reino, mas o cabo da vassoura esfregava no chão. E ele não percebeu que nessas andanças, pedaços dele iam ficando pela estrada. Pedaços dele iam ficando nas irregularidades do caminho. Ele estava definhando, mas não havia percebido isso. E até mesmo a chuva da qual ele gostava tanto era sua inimiga, pois ajudava a cartolina a se desintegrar também. E ele não via isso. Não por menos, seus olhos eram pintados com canetinha. Não veria, nem que quisesse ver.

Quando seu coração falou mais alto que a razão, não percebeu que o único lugar onde um cavalo e uma torre podem se encontrar, além dos longínquos reinos medievais, é num tabuleiro de xadrez. Mas ele não era uma peça de um xadrez. Ele era apenas um cavalo de cabo de vassoura. Apenas um cavalo de cabo de vassoura e estava definhando.

Anderson Mendes Fachina

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