sexta-feira, 15 de abril de 2011

Music when the lights go out

O título desse post eu tomei emprestado de uma canção da boa banda indie The Libertines, mas pretendo falar aqui do show do U2, que assisti no sábado, dia 9.

Em primeiro lugar, adoro a banda, e considerei a apresentação maravilhosa, deslumbrante, mesmo. Ninguém em sã consciência discordaria. O palco impressiona desde o primeiro momento, estrutura totalmente diferente do usual, que permite uma visualização muito boa dos músicos durante todo o show, telão inovador, uma atração à parte, e os efeitos e luzes são incríveis.

Porém , tudo isso me fez refletir sobre os caminhos que levam uma banda de rock a se tornar uma “mega banda”, e as contradições que isso encerra, sobretudo em se tratando da trupe de Bono Vox. Em que momento a música já não basta para os fãs, e cada turnê tem a obrigação de ampliar e inovar na pirotecnia, para dar conta das expectativas?

Talvez o discurso de “salvador da humanidade” professado por Bono fizesse mais sentido se o U2 poupasse os milhares de watts gastos por seu mega palco, a cada apresentação, e, na tradição mais crua de toda a música de protesto que já se mostrou relevante, de Woody Guthrie a Bob Dylan (e mesmo Patti Smith, politizada ao extremo e desconhecida de muitos), protagonizasse apresentações mais intimistas, dando seu recado através de sua música, e de uma atitude mais coerente.

Pode-se ter uma postura crítica, engajada politicamente, sem sacrificar o lado artístico (arte não tem a obrigação de ser engajada, como querem muitos), e o próprio U2 consegue isso, suas canções ao menos não resvalam para uma demagogia rasteira, como acontece com muitos artistas. Já a postura do Bono há tempos ultrapassou esse limite... o cara se acha alguma espécie de estadista, parece, mas sem se descuidar dos holofotes, claro.

A mim bastaria um show acústico, sem lotar estádio, sem discursinho pseudo-humanitário. Apenas as boas canções do U2 que conheço e aprecio desde a minha adolescência. Mas parece que é um caminho sem volta... então, o que vale mais? Se se apagarem as luzes cegantes, permanecerá a força da música?

No momento em que escrevo, ouço o álbum Let England Shake, da PJ Harvey, que já considero um dos melhores do ano (se não o melhor). Conteúdo político inquestionável, com a mais alta qualidade artística, e sem grandes alardes. A quem se interessar, a faixa The Glorious Land é uma das mais contundentes canções antiguerra já feitas.

Enfim, valeu muito ter ido ao Morumbi, muita diversão, boa música, mas o U2 deveria se vender pelo que é, e pelo que oferece: entretenimento, em troca de dinheiro. Tá no mercado, é pra se vender. E aos despossuídos, as sempre sinceras palavras do Bono.

Em tempo...

Momento Mega: a entrada da banda, ao som de David Bowie.

Momento Brega: a escolher, a menina que Bono chamou para declamar a letra de Carinhoso? Ou a apressada menção às crianças assassinadas no Rio? Falando em demagogia...

Cristina dos Santos Monteiro

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