sábado, 2 de abril de 2011

Quatro horas em quatro segundos

O encontro era para ser rápido... E foi, porque o tempo corre quando estão juntos.

A primeira visão que ele teve quando a viu foi maravilhosa. Ela estava mais uma vez linda, mas um componente a colocava em outra categoria que ele adorava lhe confidenciar ao pé do ouvido. O dia tinha sido desgastante e a noite seria longa para ambos, cada um com suas atribuições, cada um com suas tarefas. Mas não foi. Não foi porque mais uma vez eles permitiram que a felicidade fizesse parte daquela relação (relação???). A primeira impressão era a de que tudo não passaria de mais uma despedida, muito triste, porém intensa. Mas ela queria mais e ele, ele não poderia deixar por menos, pois havia se preparado para tal, desde a escolha do perfume e da roupa até a artimanha que, tendo em vista os fatos vividos, iria deixá-la desejosa.

O local não era o mesmo, mas já havia sido visitado em outra oportunidade e trazia boas recordações. Recordações estas que deixavam o lugar ainda mais atrativo. Havia ali um cantinho especial, um cantinho onde haviam se permitido trocar carícias e afagos, beijos e desejos. E olha que o vazio que espelhava o local se preencheu rapidamente com tanta vontade. Recordações à parte, a realidade ainda era cruel: despedida.

Nunca foi tão bom conversar a sós com uma pessoa, pensou ele. Sua vida pregressa passava como um raio pela mente. Quando foi assim? Essas rápidas lembranças não lhe traziam a resposta a este questionamento. Talvez nunca tivesse sido assim, pensa e mais uma vez as palavras que lhe melhor traduzem isso são sincronicidade, companheirismo e cumplicidade, porque não?

Ela disse: “não quero que vá”. Ele pensou: “Eu também não”. Ela disse: “você é uma pessoa deliciosa – wonderful”. Ele se sentiu lisonjeado e disse: “Sou seu, sempre”. Ela disse: “Cadê o meu sofá?”. Ele disse: “é prá já”. Mas antes mesmo de pensar numa solução prática, ela já o havia feito. E a solução encontrada mais uma vez o encantou: companheirismo... “Os dispostos se atraem”, lembra? Pensa num cara encantado...

O olhar dela estava tão presente, não faltava mais nada. Ele sentia seu desejo e sentia que isso era bom demais. A conversa foi muito, mais muito boa. Reflexões, recordações, confissões, momentos de olhar o ontem e o amanhã. Momentos de pensar no que foi e no que será e entre as pausas destes momentos, o presente, o agora, ou seja, ele e ela, ali, juntos, muito felizes com tudo aquilo que se processava.

Mais uma vez ele lhe fazia caricias no cabelo. Ele adora esse momento porque a tem como nunca, sente-a como nunca, olha-a tão de perto, como nunca. Ela também adora isso, está estampado em seu sorriso. Agora de pé, eles ensaiam uma dança. Nada coreografado, aliás, diriam até que descompassado. Mas muita, muita alegria estava no ar. Não havia música ou qualquer som que fosse. Havia apenas a vontade de mexer o corpo e olha que agora eles nem precisavam como outrora. Poderiam ficar ali, colados um ao outro sem se preocupar. Mas o balanço era inevitável. O contato era inevitável. O desejo era inevitável. E o esvoaçar dos cabelos também. Ele a rodava constantemente e quando o corpo dela girava em torno do próprio eixo, era como se o mundo parasse. Era como se o mundo parasse para que ele pudesse bailar. Seu movimento, mesmo que provocado por ele, é sempre tão linear quanto cíclico. É sempre tão compassado quanto louco. É sempre tão sensual quanto leve. Apenas é.

Conversa, dança, beijos, idas e vindas pelo espaço... Tanta coisa... E o que seria uma despedida rápida se transformou num belo encontro feliz. E de tão bom, perto de tudo que vive, teve a sensação de que apenas alguns segundos haviam se passado.

Enquanto deitava o corpo já longe dela, escreveu em seu caderno eletrônico: “Os minutos contigo passam como segundos. Quando saí daí, meu caminhar pareceu durar uma eternidade, tão imensa quanto a saudade que agora me invade. Olho agora para o lado e não te vejo. Meu olhar te procura e só encontra na memória aquilo que ainda não foi esquecido. Aqueles momentos, tão rápidos quanto um furacão, ainda me são tão vivos. Seu olhar agora me penetra. Sua boca me alimenta. Seu corpo me esquenta e sua alma preenche meu ser”. Ela estava ali. Ele tinha certeza disto.

Anderson Mendes Fachina

Nenhum comentário:

Postar um comentário