segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Incongruências

Ontem andei por uma estrada sem caminhos
E num destes, vi uma luz que não existia
E na não existência conheci quem eu já conhecia
Na madrugada do meio-dia

Ontem eu vivi uma vida que ainda não nasceu
Mas que tinha um rosto tão lindo quanto a morte
E morrendo em seus braços caí num poço
Onde a água era densa como a sorte

Ontem eu tive a oportunidade de não ter nada
E não tendo, chorei pelo muito
As lágrimas pareciam areia numa ampulheta furada
Onde o tempo passava sem ser marcado

Ontem eu olhei essa marca a uma distância secular
E no segundo do terceiro
Percebi que o receio era tão grande
Pura falta de sorte daquele que chega em primeiro

Ontem eu percebi que era tímido
Incomunicavelmente sozinho na multidão
E nessa timidez juvenil
Senti-me um rebelde sem causa

Ontem a causa era justa
Tão ou mais que o seu julgamento
Que me leva ao fundo em um segundo
Mas que por um instante não lamento.

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