sábado, 17 de novembro de 2012

Ele tinha tudo... Mas não tinha nada


Ele tinha tudo para estar feliz, mas não estava. Aliás, esse tudo, era na visão dos outros. Ninguém sabe realmente o que ele passava, a não ser ele. Por fora, o que se via era um cara contente, família, com um emprego estável, muito bem encaminhado na vida. E isso, sempre deu a falsa ideia de que sua vida era muito boa, pois assim sendo, não teria do que reclamar.

Mas ele carregava algumas coisas que não lhe deixavam dormir. Aquele “mesmo sonho” não lhe deixava em paz, assim como sua vida. Nada lhe deixava em paz. Sua mente trabalhava incessantemente. Entre um sorriso e outro, as decepções se acentuavam em sua mente e nada lhe parecia estar correto. O sol que brilhava lá fora estava longe de aquecer seu coração. A chuva que caia insistentemente estava longe de lavar sua alma.

Sua vida estava ruindo. Mas, infelizmente, aos outros esses avisos não eram perceptíveis. Ele tinha tudo para ser feliz, lembra? Então estava defronte um problema muito sério. Enquanto suas estruturas estavam corroídas e prestes a cair, sua face cotinha nuances sabores mil, contratando e ajudando ainda mais aquela equação desesperadora.

Outro dia, ao se deitar, ele puxou pra perto de seu peito toda a beleza que o acompanhava. Seus cabelos cheiravam a caramelo, aquele mesmo que lhe fazia lambuzar quando criança. Sua face, seu corpo, tudo era lindo e estava ali, em seus braços. Passava as mãos por entre os cabelos como quem estivesse sonhando acordado. E estava. Sonhava que a vida poderia ser diferente, que este belo poderia realmente ser parte de seu braço, de seu corpo. Mas, como sempre, esta beleza que estava perto levantou-se e saiu, repetindo o gesto dos corações que já não se encontravam mais.

Ele não tinha mais o brilho de outrora, de quando acreditava na vida, nas pessoas. E o engraçado é que tudo já foi começando meio errado e ele viu, achou que dava, as coisas foram caminhando e ficando mais erradas ainda e ele contemporizando... Até que ficou. Ficou como estão hoje, nesse balançar dúbio que tem numa ponta da gangorra a vida que as pessoas acham que ele tinha e na outra a vida que ele realmente tinha.  E seu sofrimento tem aumentado tamanhamente que parece estar prestes a corroer as estruturas que ainda lhe restam. Estava em perigo!

O que ele pensava sobre sua vida eram coisas muito depressivas. Pensava que não tinha nenhuma funcionalidade na instituição que ele próprio ordenava. A instituição de sua vida. A instituição das coisas que a gente vê como primordiais. E por mais que se esforçasse para ser diferente dos demais, por mais que se esforçasse para mostrar que as coisas poderiam ser mais simples, por mais que se esforçasse... Suas forças eram em vão. E o empurravam ainda mais para o abismo que ele guardava dentro de si. “Estou a dois passos, do paraíso”, cantava. “E a meio passo do precipício”, pensava. O sonho desta noite havia sido duro demais. Realmente ele precisava voltar à cadeira daquela pessoa que lhe havia aberto mais a mente outrora. E ele vai voltar. Já estava marcado.

Anderson Mendes Fachina

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Eu quero minha sanidade de volta


Ele sempre foi um cara complicado. Não que ele desejasse isso, mas as circunstâncias nunca o deixavam respirar livremente, pensar somente em si e nos seus sonhos. Ele sempre carregou uma bagagem muito maior do que precisava para viver. Apesar de todo essa complicação, algo sempre o colocava em destaque. Era uma pessoa divertida, amável, que sempre arrancava sorrisos e que fazia amigos com facilidade. Porém a vida nunca lhe sorria com o mesmo vigor que os outros.

Mas isso nunca foi um problema para que ele seguisse com sua vida. Aos trancos e barrancos, sempre conseguia seus intentos. Sempre pensava que um dia as coisas haviam de melhorar.

Certa feita, uma experiência traumática lhe tirou o chão. Perdeu amigos, se afastou de várias pessoas, viu sua vida ruir e muitas das coisas que havia construído no campo ideológico/ social/ religioso foram tidas como nulas. O episódio em questão e todos os seus reflexos fizeram com que muita gente esquecesse o que ele havia feito de bom. O que ele havia reerguido foi meio que tomado por outros. E ele caiu.

Caiu como já havia caído outras vezes. E se reergueu. Assim como havia se reerguido outras vezes. Mas como dizem os antigos “besteira pouca é bobagem”. E então ela apareceu.

Ela apareceu quase que do nada. Até dias antes, ignorava a existência dela. Ela apareceu lhe tirando toda e qualquer possibilidade de reação contrária. Um amor arrebatador, diriam alguns. A metade da laranja, diriam outros. E o céu, pelo menos o seu céu, se abriu em resplendor. E a vida ganhou ares de romantismo, lirismo, realismo. Real porque nunca havia vivido daquela maneira e para ele era assim mesmo que deveria ser a vida: alegre, festiva, amorosa...

Esqueceu-se de vários problemas. Via os sonhos tomando novas roupagens. Esqueceu-se da dor de carregar um fardo que não era somente seu. Enfim, a fotografia de sua vida estava mais colorida, mais compassada, muito mais agradável.

Ela não era uma mulher fatal, mas estava perto. O trouxe para o seu mundo e arrebatou seu coração como quem agarra com ambas as mãos um prato de comida após dias e dias de jejum. E ele foi agarrado... Física e psicologicamente. Ai nasceu o erro da relação.

O encanto vivido escondia ainda mais algumas nuances não tão superficiais. O mundo dela era diferente do dele. E uma vez passado o perfume que faz de todo e qualquer amante um príncipe/ princesa, o castelo mental até então construído em bases sólidas começou a ruir.

Ela era inconstante. Queria, não queria. Tinha orgulho, tinha vergonha. Era amorosa, era ríspida. Nada fazia sentido em suas atitudes. Não que estas não se justificassem. Não faziam sentido porque não tinham uma linha racional que lhes conduzisse. Ele, ao contrário, buscava sentido para tudo o que estava acontecendo e, ao mesmo tempo em que sentia e oferecia um amor verdadeiro, começava a ver que seus sonhos, mais uma vez, poderiam não ter um final feliz.

E ela o esgotou. Esgotou toda sua capacidade mental em raciocinar com primor. Ele agora não tem chão em seus pensamentos. Não sabe mais o que quer, não sabe para onde isso tudo vai se encaminhar. Não consegue mais sorrir verdadeiramente.

Essa nova fase o reaproximou de alguns velhos amigos. Amigos verdadeiros que as vezes lhe servem de parada. Mas nem mesmo esses amigos conseguem mensurar até que ponto as coisas se processam em sua mente... E principalmente como se processam esses pensamentos. Eles percebem que ele não tem mais paz. Suas forças se mostram muito pequenas, dentro daqueles olhos fundos, cansados.

Sua sanidade está em risco. A linha tênue entre a felicidade e a loucura está sendo ultrapassada. Ele estava quieto, em seu canto. Não havia pedido isso. Ela apareceu por uma conjectura mal feita do universo. Triste. Espero que o pouco que lhe resta seja capaz de fazer vê-lo que isso não é amor.


Anderson Mendes Fachina

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Palmeirenses + São-paulinos


Houve um tempo em que eu acreditava que as amizades verdadeiramente sólidas, pra vida inteira, seriam só aquelas construídas na infância, no início da adolescência, o mais tardar.

Seria mais ou menos como escolher um time de futebol pra torcer: quase todo mundo, quando é pequeno, troca de time algumas vezes, até optar por um, aquele do coração. Porque não daria pra passar a vida mudando, alviverde hoje, tricolor amanhã, ao sabor das vitórias de cada equipe. Há que se escolher e ser constante, na vitória e na derrota, no futebol como na vida.

Mas a vida, como o futebol, é uma caixinha de surpresas. Um clichê batido? Talvez a expressão do que pode ser, e às vezes é, inesperadamente bom.

Na faculdade em uma repetição do ciclo que eu atribuía à infância,integrei vários grupos, estabelecendo boas relações de boteco/biblioteca/conversa, mas amizade mesmo, só um pouco mais tarde, com aqueles três caras, que se tornaram meus três cavalheiros, os meninos do meu coração, pra vida inteira.

Formávamos um grupo desequilibrado, em termos de paixão futebolística, sendo o Willian o “pontinho verde” em meio à maioria são-paulina. Três bambis e um porco, como eu propus uma vez. Só o Willian achou legal.

O caso é que o nosso palmeirense deixou de ser minoria de um modo bem agradável: desposou uma alviverde e converteu o filhote. Por outro lado, o Anderson garante que o Rapha já nasceu tricolor, e a Katy não se opõe.
O GRANDE ENCONTRO: Raphinha, Katyane, Anderson, Cristina,
Leon, Ana Paula, Vandete, Wilian e Wilian Jr.

A novidade que nos foi comunicada no último domingo é que o Leon está arriscado a se tornar minoria em sua própria casa, já que lançou seus encantos a uma palmeirense muito gente boa (bem vinda ao bando, Ana!), e deu tão certo que a herdeira (o) já está a caminho. Só que, segundo a mãe, periga nascer com um duvidoso gosto por meiões verdes e camisas marca-texto...

Ainda bem que eu tive a felicidade de impedir a virada de jogo:minha baiana fica linda com sua camisa tricolor, e não é a do Bahia.

De qualquer forma, o Willian Jr. ainda está naquela maravilhosa fase da infância, na qual virar a casaca é possível e permitido. Quanto ao resto, amigos maravilhosos podem surgir a qualquer momento, em qualquer fase da vida, se ele tiver sorte como eu.

Cristina dos Santos Monteiro

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Workshop curta-metragem

"Cinema em poucas imagens"

Tive a oportunidade de participar do Workshop curta-metragem: cinema em poucas imagens, produzido pela galera do Coletivo Gema Genérica dentro da SEDA (Semana do Audiovisual 2012). Como já disse aos meus amigos, há tempos eu não participava de um curso livre que me preenchia completamente. Como amante do cinema, realmente me deliciei. Além de participar de aulas muito instrutivas, conduzidas primorosamente pelo mestre Isaac Pipano e assistir a curtas que realmente tinham algo a acrescentar, ainda participei da execução de produção de um curta, como trabalho final deste workshop.

Além das novas amizades e da convivência com pessoas que compartilham de anseios parecidos com os meus, consegui sair do curso com um novo olhar sobre o cinema e ânimo para aprender ainda mais e sempre sobre esta arte maravilhosa. No trabalho final do curso produzimos um curta-metragem que foi filmado no Mercado Municipal de Barretos, o famoso "mercadão". Ao lado de companheiros muito bem aplicados, produzimos um curta intitulado "PROCURA". Como regras, tínhamos que produzir o mesmo em apenas cinco planos, o que foi um desafio muito bom. Acredito que conseguimos desempenhar um bom papel, visto que havia muitas ideias, muitas coisas para fazermos e pouco tempo, pouco profissionalismo mas muito esforço.

Segue o link com a programação completa do Workshop: http://migre.me/9X5EJ

Acompanhem o vídeo produzido pelo meu grupo. Eu atuo em um plano e executo a filmagem em outro: http://migre.me/9X6qS

Galera na sede do Gema Genérica após a edição dos curtas

Minha equipe durante a edição do curta-metragem
Saiba mais sobre essa galera fantástica do Coletivo Gema Genérica através dos links:

domingo, 3 de junho de 2012

Quem deveria aprender com quem?

Recentemente tenho refletido muito acerca da criação de meu filho. A cada dia uma novidade se apresenta e o sorriso é sempre muito bem vindo. Aliás, sorriso igual ao dele não existe... Ele está andando, um presente de dia das mães, quando levantou e caminhou sem a ajuda de nenhum apoio. Ele brinca, come muito, fica doente, enfim, faz tudo que uma criança nesta idade deveria fazer.

A reflexão a qual me atento fica por conta de um comportamento muito bem marcado nesta fase. Tudo o que faço, ele tenta imitar. Outro dia pegou um tubo de cola fechado (ainda bem) e passou debaixo das axilas, simulando quando faço isso com o roll-on. Fantástico! Nem sempre prestamos atenção o quanto eles nos observam. Imitam-nos mesmo, prestam atenção em tudo, mexem em tudo, procuram por tudo, não param um minuto sequer. Aí vem a constatação mais perigosa de todos: quando eles nos imitam, não sabem diferenciar o que é correto e o que não é, não têm capacidade de medir se o que fazemos está correto, se o que falamos está certo ou se nossas ações são boas ou más. Eles simplesmente imitam. E tão claro quanto isso é a constatação de que imitar acaba trazendo certo “aprendizado”. Então eles aprendem tudo o que fazemos, seja isso certo, seja isso errado.

Na atual conjuntura em que nos encontramos, muitas coisas ruins permeiam nossa vida e isso é algo muito forte dentro do cotidiano. Cotidiano esse recheado de informações, recheado de componentes que fazem da nossa vida algo muito rápido, muito volátil. Assim sendo, há muita coisa ruim para eles aprenderem. E eles aprendem.

Agora vem a questão: Quem deveria aprender com quem? Eles conosco ou nós com eles? Façamos uma breve análise.

As crianças são alegres, sorriem para tudo. São tímidas às vezes, são puras em suas considerações e na lógica que fazem das coisas. Têm uma inocência tão etérea que consegue nos desarmar por completo. Quando minha sobrinha era pequena, estávamos uma vez no mercado e ele pediu para que eu comprasse algo. Respondi que não tinha dinheiro. Ela simplesmente disse: “Então passa o cartão”. É a lógica inocente. É a pureza nos sentimentos. Sempre conto uma história que ouvi certa vez: “A criança foi na missa com os pais e no meio do sermão, gritou bem alto um palavrão, chamando a atenção de todos. Os pais ficaram vermelhos de vergonha. Ao final, disseram a todos que a criança nunca havia tido esse comportamento, que ela nunca havia dito um palavrão. Outra pessoa disse: Acredito que ela nunca teria dito um palavrão, mas pode ter certeza, ela já deve ter escutado vários”.  Verdade. Em algum momento ela escutou isso... E aprendeu!

Então, ao invés de nós, adultos, aprendermos a sorrir como as crianças, aprender a não ver malícia nas coisas, aprender a ser ativo o dia todo, deixando pra lá a ociosidade da vida cotidiana, são eles que aprendem conosco. Esse aprendizado deve ser de mão dupla. Devemos aprender com eles também. Mas para isso precisamos fazer um grande esforço em prestar atenção nas pequenas coisas, nas coisinhas que passam despercebidas em nossa vida.

E para perceber a beleza do pequeno é preciso deixar de ser grande, deixar de nos posicionarmos como donos do saber e olhar para nossos filhos como quem procura pela sabedoria, como que quer se saciar com o maravilhoso. Ficamos bobos sim, é verdade. Mas essa “bobeira” deve ser refletida em aprendizado, em sorrisos. Sorrisos e atitudes sinceras. Sorrisos e vontade em viver alegremente.

Anderson Mendes Fachina

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Reflexos da inocência ou do tudo é permitido, mas nada obrigatório 2


O lugar era o mesmo, as companhias não. Aliás, as companhias eram extremamente diferentes, se isso é possível. Mas o lugar, este, certeza, era exatamente o mesmo. Aliás, nada mudara muito da última vez que visitou aquele local. O mesmo ar, a mesma penumbra, o mesmo errare humanum est de sempre.

Quando pôs os pés no interior do local teve a mesma certeza de outrora. A mesma sensação o tomou todo o ser. O tempo era outro, mas a sensação era a mesma, a mesma. Recordações o assolaram naquela fração de segundos entre o primeiro passo e o próximo. Olhou ao redor e viu o que tinha quer ver. Surreal? Fantasioso? Não! Apenas acontecia o que era previsto, as cenas passavam pelos seus olhos como em câmera lenta, porém muito vivas e marcantes. Muito marcantes. Muito vivas. Como se não bastasse a intensidade dos flashes, como se não bastassem as imagens prêt-à-porter que estalavam ao tocar a face, como se não bastasse o flashback nonsense, como se não bastasse tudo aquilo de novo, ele viu. Ele viu por entre as frestas, por entre as passagens.

Ele viu. Não sabe ao certo traduzir a imagem. Não consegue definir o que os olhos viam. Mas tinha uma certeza, ele viu. Viu com a claridade do sol que ali nunca habita. Ele viu.

E numa fração de segundos ele... Viu. Foi só isso. Lembrou-se da inocência perdida, da flecha atirada, das palavras jogadas, lembrou-se de tudo. Tudo tem uma explicação, pensou. Tudo tem um por que. E é aí que nem sempre tudo é o que parece.

Olhou para outro lado. Desta vez com mais profundidade, para não correr o risco de se perder mais uma vez por entre as frestas. E acredite, alguma coisa aconteceu de certo, ou de errado (dependendo do lado em que se está). Alguma coisa dessas que fogem ao controle. Fogem ao controle.

Anderson Mendes Fachina

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Se você quer sorrir


Quando não se tem a reciprocidade merecida, algo errado está acontecendo. Mas ela não consegue enxergar isso de maneira nenhuma. Tem um brilho no olhar que lhe é singular, tem um doce e um encanto no rosto. Mas não se engane: Tem a sutileza sarcástica do bom humor. E isso, diga-se de passagem, é de longe a melhor característica.

Acontece que parece que ela não sabe disso e vive um sonho onde apenas seus anseios o alimentam. Um sonho que corriqueiramente se torna um pesadelo. E como sempre ela acorda assustada, entende o que estava acontecendo, jura que não vai sonhar mais... Mas, quando volta a adormecer, o sonho volta com toda a força.

E não é que esse sonho a traz vergonha. Ela envergonha-se em saber que está sonhando sozinha novamente. Tem medo de falar seus sentimentos, tem medo de contar aos demais suas aspirações. Bom, então, meio caminho andado para a derrocada final do ser amoroso. Só falta um ponto a ser resolvido. Só falta um ponto, o ponto final.

Outro dia ela escutou: Essa história não tem final feliz, nessa história você nunca vai viver em harmonia. Se quiser voltar a sorrir, tem que acabar com essa história e começar outra. Fato! Mesmo que seja com a mesma pessoa, mas essa história é fadada ao fracasso. Outra deve ser construída, outra deve ser trilhada.

Não se fala mais nisso. Se ela está sonhando sozinha ainda é um mistério. Mas uma coisa é certa: Se estiver sonhando a mesma história em breve todos saberão. Basta olhar para seus olhos marejados e a feição de tristeza que assola os amantes abandonados.

Anderson Mendes Fachina

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Decepção


Hoje eu tive a certeza de que pensar ao contrário, quando se está decepcionado, é algo extremamente difícil. Aliás, a decepção chega rompante, montada num cavalo branco num cavalgar avassalador. Tira-te o chão, o ar, os pensamentos bons, tira-te o norte, o sul, o leste e o oeste.

Há tempos não me sentia assim (salvo as decepções sobre minhas ações e atitudes, que são quase que instantâneas quando faço algo errado). Há tempos eu não ficava tão fora de mim, deixando os sonhos em segundo plano. Em segundo plano não, enterrando os sonhos sob uma camada grosseira de pedras a assentos. Nem o brilho juvenil do horizonte que me cerca conseguiu mudar o panorama da frustração da minha mente.

Fiquei extremamente decepcionado. Fui do céu ao chão em questão de milésimos de segundos. Cai de cara. E minha face ainda está enterrada no lugar em que despencou. Uma certeza se fez presente. Acreditar é antes de tudo uma questão de fé. Fé em algo que julgamos importante. Mas a certeza que se fez presente não foi essa. A certeza é de que quando baseamos esse acreditar naquilo que não é entendido, vemos que o não entendido é na verdade, não verdadeiro.

Anderson Mendes Fachina

quarta-feira, 18 de abril de 2012

O mesmo sonho

Este sonho tem se tornado corriqueiro. Não é bom. Não é um sonho que se deseje ter. Nele eu vejo cenas que nunca deveriam fazer parte da minha vida e sempre acordo em aflição, em total medo. Não que eu quisesse parar de sonhar. Mas ultimamente meus sonhos não são bons. Não estão sendo sonhos. Pesadelos? Não sei.

Neste sonho eu vejo uma pessoa muito próxima. Ela não me reconhece como tal e mostra o quão sua vida é superior, mesmo sem a minha presença. Mesmo sem a história que nos une. E pior, não há passado, não há sequer história, apesar desta se passar em razão de segundos em minha mente.

Nesta não-história, sou feliz. Nessa não-história tenho a vida que pretendia ter. Mas uma ressalva deve ser feita: quem desconstrói essa não-história sou eu mesmo. Sou eu quem a escreve por entre as linhas paralelas deste caderno que é a vida.

Então no sonho vejo o infinito sem luz. Vejo a luz sem interruptor. Vejo o interruptor, mas minha mão não o alcança. Aliás, não tenho forças para nada a não ser chorar. Um choro resquicioso, um choro que mostra a minha fragilidade diante da avassaladora passagem da borracha que reescreve o futuro.

Às vezes penso: Quem comanda a borracha? Quem posiciona o lápis? Quem vê por entre as linhas traçadas e encontra as brechas da felicidade e da solidão? Mas isso não importa durante o sonho. O que importa é que sofro e vejo isso com meus olhos lacrimejados. Nesta turves que me embala o ser, encontro um propósito muito forte. Sou impelido a acreditar que se trata de um sonho. 

No soluço da verdade, só tenho uma certeza: vou voltar a dormir, vou voltar a sonhar.

Anderson Mendes Fachina

domingo, 8 de abril de 2012

Ele está morrendo

Por todos os ângulos que eu olho, vejo a mesma coisa: ele está morrendo. Não que ele estivesse em plena vivência, gastando saúde ou mesmo com fôlego para dar algumas caminhadas, mas está morrendo. Está morrendo porque não consegue mais. Está morrendo porque não encontra parâmetros do outro lado. Está morrendo porque a morte pode ser a sua salvação. Está morrendo porque a morte pode significar uma nova vida em outro lugar. Um lugar onde sua imaginação tem asas e a vida tem algum sentido.

Durante muito tempo ele acreditou neste teatro. No fundo ainda acredita. Mas sabe que quando o roteiro é escrito por um autor intransigente, que evoca todas suas perspectivas de vida para falar que é o dono da verdade, que conhece a arte como ninguém, não adianta tentar ser espontâneo, não adianta tentar querer mostrar que tem também um bom lado artístico. Tem que seguir o roteiro e ponto.

Outro dia tentou comemorar um ano de bons e maus momentos, mesmo porque acredita que essa vida deve ser celebrada. Mesmo porque acredita que os passos estão sendo dados, e ele ainda está aberto. Mas essa comemoração ficou para trás. Foi vencido pelo cansaço da falta de imaterialidade do outro. Foi vencido pela falta de sonho do outro. Foi vencido pela vida onde ele não habita, não faz parte. Uma vida onde ele tem apenas uma função: ajudar. Não faz parte dela, não foi considerado em sua construção... Mas é cobrado a ajudar, é cobrado com afinco, sob pena de ser excluído dos demais processos, como o é sistematicamente.

Ele está morrendo, apesar da vida belíssima e pequenina que tens em mãos. Uma vida que lhe encanta a todo o momento. Uma vida que deveria ser celebrada, mas não é. Pena, talvez seja a única vida que realmente importa, já que a sua não existe.

Ele está morrendo... Mas a morte é dolorosa e implacável. Seu processo é penoso demais às vezes. Ele está morrendo... Mas ao mesmo tempo ainda tenta entender o que está acontecendo para poder continuar a pensar: já que a morte é dolorosa demais, talvez só lhe reste uma saída.

Anderson Mendes Fachina

segunda-feira, 12 de março de 2012

O dom da leitura

O bom entendimento de um texto requer uma leitura que seja direta e alcance os objetivos iniciais que o leitor traçou quando iniciou esta tarefa. "Entender", segundo o dicionário “Michaelis”, em sua edição eletrônica, significa “1. Ter idéia clara de; compreender, perceber. 2. Ser hábil, perito ou prático em. 3. Crer, pensar. 4. Interpretar, julgar. 5. Ouvir, perceber. 6. Ter prática ou teoria. S. m. Juízo, opinião”. Dentro desta perspectiva, a leitura se torna algo ainda maior quando o texto explicita algum conceito, idéia, opinião, abstração, parecer, fundamento, etc., que se queira, em tese, ser conhecido e entendido por aquele que tem contato com os escritos.

Diante do desafio que é, efetivamente, entender aquilo que se lê, surge a preocupação em se procurar uma estratégia que se torne eficaz no sentido de fazer com que o leitor consiga, de maneira objetiva e clara, alcançar seu intento. Quando se fala em texto de origem acadêmica então, a tarefa é dobrada. Para tanto, o texto deve ser entendido, primeiramente, como parte de um grupo em específico, o que facilita a escolha da melhor alternativa para seu enfrentamento, pois se lê um texto de um gibi, por exemplo, diferentemente de como se lê um texto de uma bula de remédio ou de um editorial de jornal. Cada texto tem algumas peculiaridades que são importantes e devem ser observadas pelo leitor para que não haja surpresas quando da leitura.

Quando sabemos, através do título, da sinopse, das críticas, do sumário, etc., qual o conteúdo que o texto aborda, temos uma previsão daquilo que a leitura pode trazer, essa é a primeira estratégia que o leitor deve utilizar. De posse deste pré-conhecimento, e confrontando com aquilo que já conhecemos sobre o assunto, podemos utilizar ainda outras duas estratégias.

- A da leitura rápida, quando o leitor busca ver o texto de maneira acelerada e ampla, pinçando em suas linhas as informações principais e os grandes temas que ele aborda como forma de entendê-lo como um todo. Como exemplo a leitura de uma matéria jornalística normal.

- A da visualização da informação, quando, de posse do pré-conhecimento do tema, o leitor busca no texto informações específicas sobre o que está procurando. Como exemplo os efeitos colaterais de determinado remédio indicados em sua bula.

            Todas as estratégias descritas são utilizadas quase que mecanicamente, conforme se aprimora seu emprego e são cada vez mais aperfeiçoadas quando o leitor tem o hábito presente da leitura. O conhecimento que a leitura transmite é algo que dá a segurança para que o leitor vença o desafio de entender determinado texto e de se utilizar, com maestria, das expressões bem construídas e da gramática correta que quando se fala ou se produz seu próprio texto. Essa segurança é o indicativo não só de uma boa leitura e produção de texto, é também algo que dá ao seu possuidor a capacidade de pensar e articular melhor seus conhecimentos e de nunca ser lesado pela ignorância.

Anderson Mendes Fachina

domingo, 11 de março de 2012

Acapulco

Hoje acordei cedo ao lado do meu filhotinho e liguei a televisão para dar uma zapeada pelos canais. Às vezes gosto de assistir o Globo Rural ou um daqueles programas informativos que passam nos horários onde muitos nem ligam a televisão, afinal, quem acorda antes das 9h no domingo?
Turma do seriado Chaves

Qual foi minha surpresa quando passei por um canal onde passava o seriado Chaves. Surpresa não pelo seriado em si, uma vez que a qualquer hora do dia no referido canal é possível assistir ao programa do Chaves. Surpresa porque há muito tempo não assistia ao episódio onde todos vão para Acapulco (eu sei que ele deve passar pelo menos umas três vezes na semana, mas faz tempo que não o via).

Para que não se lembra deste episódio (existe alguém que não lembra?), a Chiquinha compra um pote daquelas pastas brancas para limpar prata usando 20 mangos que “pegou” na gaveta do Seu Madruga. O professor Girafales encontra a pasta e como sabe que na casa da Chiquinha não há nada de prata, ele desconfia que ela surrupiou a pasta em algum lugar. Logo descobrem que ela comprou a pasta para concorrer a uma viagem a Acapulco, que acaba ganhando. Com a ida da Chiquinha e Seu Madruga, a Bruxa do 71 também decide ir. Por puro despeito, a Dona Florinda e o Quico também vão, assim como o professor Girafales. Ao saber que todos seus inquilinos tiraram férias, o Seu Barriga também decide ir e leva o Chaves. Em Acapulco, as mesmas palhaçadas e brincadeiras de sempre e a certeza de que iremos rir do início ao fim.

Assisti ao episódio e mais uma vez me coloquei a pensar como um seriado tão antigo consegue arrancar nossas risadas com as mesmas piadas de mais de três décadas (o episódio de Acapulco foi gravado em 1978). Sem apelação, sem mulheres seminuas, sem palavrões, sem recursos especiais, sem nada de diferente. Aliás, a produção do programa era muito simples, com os personagens num único set, mesmos figurinos e baixo orçamento. Talvez seja essa simplicidade a “alma” do seriado. Não sei ao certo, mas há uma magia impar neste seriado que fez com que minha avó, minha mãe, eu e logo meu filho, sorriam sem parar das trapalhadas da trupe.

Quantos programas bestas vemos hoje serem produzidos por essa televisão brasileira (infelizmente são programas que vendem, pois há público)? Quanto lixo há na “telinha” (e a telinha em alguns lugares já tem mais de 40 polegadas)? Quanta podridão?

Não sei até quando darei risada com o Chaves. Só sei que ele me faz lembrar a simplicidade da vida e do cotidiano. Só sei que quando escuto frases do tipo “pois é, pois é, pois é”, “foi sem querer querendo”, “não se misture com essa gentalha”, “e da próxima vez, vá... na sua avó”, “tinha que ser o Chaves”, me transporto para um passado não muito distante, onde sinto o cheiro da terra, da comida da minha mãe, da vida.

Anderson Mendes Fachina

domingo, 4 de março de 2012

Quatro reais... Foi o que sobrou

Ela estava totalmente frágil e procurava um sentido para sua vida amorosa. Mas o caminho estava errado e eu sabia disso desde o primeiro momento. Não podia ser diferente, a rol de clichês estava sendo usado à exaustão... E isso, ela nunca vai poder dizer que não foi dito. Eu alertei, e como alertei. Pense: princesa e anjo sem asas não podem ser elogios realmente verdadeiros para um primeiro encontro, ou décimo que seja. Aliás, nada mais démodé, certo?

Bom, mas acontece o seguinte: aconteceu. Ela ficou toda derretida e ele, ao chegar em casa, fez mais um risco na parede.

Numa situação destas, as coisas em ambos os lados se processam de maneira muito diferente. Para ele, um troféu, mais uma conquista (e a renovação das mentiras contadas). Para ela, um momento especial, inesquecível, a celebração da vida.

Mas a mentira estava traçada perfeitamente. Ele estava em apenas uma pequena passagem pela cidade e omitiu isso a todos. Num belo dia, entre juras de amor e saudades, ele disse que iria para São Paulo ver a mãe e retornaria no domingo. Chegou o domingo e ele não deu notícias. Setenta e oito ligações perdidas depois ela descobriu: ele havia ido embora para outra cidade, outro serviço e ainda era casado. O anjo sem asas caiu no choro. A princesa perdeu o seu sapatinho de cristal.

"Quatro reais, foi o que sobrou”, disse ela. Quatro reais em créditos de celular que ele havia bancado para que eles se comunicassem. Um investimento que lhe valeu uma boa conquista. Uma sobra que valeu a ela nada. E mais uma desiludida do amor povoa a terra...

Anderson Mendes Fachina

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O primeiro dia na escola

Não lembro em nada meu primeiro dia na escola, mas não vou esquecer o primeiro dia de meu filho. Hoje ele iniciou sua vida "escolar", com apenas onze meses de existência numa escola que julgo ser uma das melhores no ramo. Tive a oportunidade de acompanhá-lo durante toda a manhã nesta empreitada. Como não poderia deixar de ser diferente, fomos os primeiros a chegar. O horário de entrada é as 7h30 horas. Lá pelas 7h05 já tinha estacionado o carro na frente da escola. Fomos, de longe, os primeiros a chegar. Realmente a ansiedade é um problema que tenho que aprender  a enfrentar.

Eu, de férias e totalmente perdido (nesta semana vou fazer essa adaptação), fui muito bem recebido e passei uma manhã maravilhosa, mágica. O Raphinha não deu trabalho algum, comeu bastante e ficou observando atentamente todo o ambiente, como sempre faz. Seu coleguinhas (quase todos já andando) também mostraram-se contentes com o início das aulas. Há tempos que eu não subia numa árvore. Fiquei tentando a realizar essa "travessura" e não me contive. Lembrei-me de uma infância distante, onde as crianças realmente brincavam, realmente se divertiam com qualidade. Bom e velhos tempos... Quem tem mais de trinta sabe o que eu estou falando. O local é propício. Tem plantas, caixa de areia, árvores, galinhas, jaboti, parquinho de madeira, brinquedos de madeira e pano (não há nada de plástico), etc. Tudo é colaborativo, tudo é muito bem amarrado.

Meu filho observava a tudo atento. Ainda não anda mais tá quase lá. Ficou todo tempo no colo e até dormiu um pouco (na verdade ele só foi acordar depois das 8h30). Como ele acordou cedo e não estava acostumado, ficou meio jururu no início. A professora muito bem preparada, foi muito atenciosa e muito amorosa com todas as crianças.
Na hora do lanche, os alunos maiores ajudaram a preparar a mesa, colocaram as toalhas, os talheres e não foi nada decorado, implantado como uma regra. Percebia-se ali um aprendizado baseado no respeito e no amor mútuo. Suco natural, nada de refrigerantes, comida recheada de alimentos saudáveis. Realmente um oásis no meio deste deserto que nos assola.

A escola em questão utiliza a pedagogia Waldorf. Sem tentar explicar do que se trata, utilizo-me do trecho de um trabalho de Teresa Cristina de Oliveira Emanuel (O trabalho completo pode ser encontrado no link http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/per14.htm).

A base da Pedagogia Waldorf é conceber ao homem a harmonia físico-anímico-espiritual na prática educativa, partindo da visão antropológica, fazendo com que esta educação responda às necessidades atuais e futuras do homem. 

O ser humano deve buscar a resposta que seu interior é capaz de realizar, pois todos nascemos com predisposições e capacidades que ao longo do tempo se desenvolverão. 
Seus princípios são pautados na Trimembração do Organismo Social, que partiu da revalorização dos impulsos da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, onde se tem liberdade (no pensar) com responsabilidade, igualdade (jurídico-legal) de deveres e direitos e fraternidade como respeito mútuo regendo as instituições com base na Pedagogia Waldorf. 
No início do século passado, Rudolf Steiner retomou a idéia que havia na antiga cultura grega, onde se dividia a vida humana em dez períodos de sete anos, ou setênios e as fundamentou para o ensino aplicado à Pedagogia Waldorf. 
Do período entre a infância e adolescência dá-se importância aos três primeiros setênios, nas faixas de 0 a 7 anos, de 07 a 14 anos e de 14 a 21 anos (as idades são aproximadas devido a fatores que antecipam alguns acontecimentos), período em que a criança e o jovem recebem educação na escola. 
Os Setênios: (Apenas o primeiro setênio é explanado aqui. Para mais informações, acesse o link) 

De 0 a 07 anos (maturidade escolar) 
- A criança está aberta ao mundo; 
- Tem confiança ilimitada; 
- Recebe impressões sensoriais; 
- Não elabora julgamento ou análise; 
- Está na fase do desenvolvimento motor; 
- As percepções inadequadas são armazenadas no inconsciente (não compreende o pensamento dos adultos); 
- Aprendizado por imitação; 
- O educador Waldorf deve ser digno de ser imitado, pois nessa imitação inconsciente estará fundamentando sua moralidade futura. 
Característica: O bom. 
As características do processo evolutivo da aprendizagem e transmissão do conhecimento requerem um grande conhecimento por parte do professor Waldorf, e a ação pedagógica deve ser o agente facilitador deste processo, pois quando as respostas às expectativas dos estudantes são atendidas a aprendizagem tem caráter significativo. 

O estudante deve ter um acompanhamento do seu desenvolvimento integralmente, pois passa da infância à adolescência na escola. É a educação transcendendo a transmissão de conhecimento e cultivando devagar e com carinho o intelecto e a sensibilidade humana. 
A Pedagogia Waldorf trabalha a formação do indivíduo, é o chegar, fazer e ser. Ter mais sabedoria do que conhecimento e o professor deve atar tudo isso com um laço de amor partilhado. 

Como eu disse: não me lembro do meu primeiro dia na escola, mas não vou esquecer o primeiro dia do meu filho, do seu rostinho atento, da sua carinha de alegre ao comer, do seu olhinho brilhando. Não, não vou esquecer.

Anderson Mendes Fachina

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Docência

Docência, um ato de ensinar, talvez. Acredito que melhor seria compreendida como a sucessão de pensamentos, reflexões acerca do que é ensinar e o que ensinar. Ensinar é dar lições e/ou recebê-las, educar e/ou interagir dentre as muitas esferas da educação e por elas se reciclar.

Realmente a profissão de professor, circunda, faz do “ser professor” uma incessante procura do que é o seu essencial objetivo, ensinar, mediar conhecimentos, desenvolver habilidades, competências. E anos a fio de docência, lhe mostram cada vez mais um ser, um profissional sempre incompleto.

Incompleto, neste, quesito, não se encontra em seu teor pejorativo, mas sim, ávido por encontrar algo de mais preciso, seguro, algo lhe sempre falta em sua formação teórica e que a prática vai aos poucos lapidando. Mas o tempo, as novas técnicas e os anseios da sociedade, insistem em mudar o projeto. A pincelada final, nunca chega, mas as mudanças dão ao projeto de docente, uma amplitude, uma astucia cada vez mais consistente do que é ser um educador, um docente.

Talvez um obcecado por quebras cabeças, é isto! Todo inicio de ano letivo a gente sabe qual o resultado que queremos a imagem bonita, está ali, na caixa, mas ela é apenas um referencial, a teoria.

As peças dentro da caixa estão sempre soltas, desconexas, confusas, por onde começar?

É preciso OUVIR opiniões de quem já a montou. Profissionais da escola sempre conhecem uma peça fundamental, que norteará o nosso trabalho.

Com base nessas opiniões, torna-se necessário rever a imagem, ESTUDAR, diagnosticar, por onde vamos iniciar. Pelos cantos, pelas meandros de figuras concretas, onde vamos fundar nossas ESTRATÉGIAS.

Estratégias, sempre são estratégias, às vezes dão certo, mas de tempos em tempos é preciso REVÊ-LAS, refletir, se o que traçamos foi realmente o melhor caminho, caso a resposta seja negativa, HUMILDADE, PACIÊNCIA, para voltar ao ponto inicial.

Novamente, um palpite, um APOIO, de alguém de fora, geralmente faz sempre a diferença. As vezes pelo excesso de envolvimento não vemos a peça a que procuramos. DISTANCIAR-SE, perceber a imagem tanto a teórica, quanto a do ato empírico, às vezes é o melhor modo de vermos a situação de modo real, assim vemos POSSIBILIDADES, não apenas desafios.

Fora, o grande projeto, ali espalhado em pequenas peças, nos deparamos com efeitos não esperados, muitas vezes por falta de organização nossa mesmo, outras pelos entremeios do jogo. Não é de surpreender com ausências de peças, esbarrões, ventos que destroem o que já foi montado. Dentro das instituições, leia-se falta de recursos e apoio, desmotivação dos educandos, acúmulo de tarefas burocráticas, entre outros. Nestes momentos, a PERSEVERANÇA, DETERMINAÇÃO, sempre deve estar à frente, para sabermos, recolher, remontar, constituir o projeto inicial com a qualidade que planejamos, através do DIÁLOGO ABERTO E SINCERO com a equipe escolar e a família.

Às vezes, a imagem que planejamos não se concretiza, dentro do prazo determinado. Mas sempre temos a certeza que algo foi feito, encaixado, podemos passar para outro dar CONTINUIDADE. Não é errado, não é feio, o que não podemos é destruir, ou descaracterizar o que já foi montado, mesmo que não seja por nós. RECONHECIMENTO do trabalho do outro é essencial dentro de educação.

Alias, acho, que na verdade, como um obcecado por quebra-cabeças, ele sempre terá NOVOS DESAFIOS, afinal, como já comentamos o trabalho nunca se cessa. Sempre temos uma caixa com novas peças, e para os mais experientes, as peças, vão ficando cada vez menores, é preciso desenvolver um OLHAR DETALHISTA, mas o resultado vai ficando cada vez mais SURPREENDENTE, assim como a profissão de tentar ser constantemente PROFESSOR.

Katyane Lima Sousa

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Hoje faz um ano

Aquele foi um dos piores dias de minha vida. Tive ali a certeza de que nunca devemos deixar as coisas que realmente importam para trás. Não adiantava chorar, não adiantava nada... Nada ia trazer ele de volta. Nada ia preencher o vazio que a sua partida me deixou. Um vazio, que já vinha sendo construído há tempos, mas que eu jurava, um dia, melhorar.
A última vez que o vi ele estava sorridente. Contente com a minha presença. Eu o abracei, sorrimos e mal sabia que seria a última vez nesta existência. Mal sabia que aquela despedida e a promessa de nos encontrarmos novamente seriam as últimas palavras.
Mas naquele dia, tudo acabou. Chorei e foi muito triste constatar que as coisas poderiam ter sido diferentes. Mas não foram. Não foram. E, dali em diante, não poderiam ser nunca mais. Eu sempre o amei, mas julgava que a minha tristeza em vê-lo triste era maior que a própria tristeza que ele sentia. E esse tal julgamento que fazemos é inexorável. Sem dúvida, ele cai sobre nós como realmente merecemos.
Hoje faz um ano e sua memória ainda é viva em minha mente. A memória dos tempos felizes, quando sentávamos à mesa para comer, todos juntos. Lembro-me, como se fosse hoje, dos tempos em que sentado na garupa da bicicleta, andávamos por toda a cidade. Lembro-me de todos os esforços que foram feitos para que nós fossemos criados. Lembro-me da saudade que sentia quando ele trabalha fora. Lembro-me daquela tarde nublada qualquer em 1988 quando ele me ensinou a fazer uma dobradura de um pássaro, que mais tarde aprendi se tratar de um Tsuru. Lembro-me como se fosse hoje. Ele havia aprendido num desses serviços fora, quando pintava uma escola agrícola na cidade de Igarapava. Lembro-me de quando ele me abraçou chorando dizendo que meu avô, era o maior homem do mundo. Lembro-me de tudo, coisas boas ou ruins.
Onde quer que esteja saiba que penso em você todos os dias.

Anderson Mendes Fachina

domingo, 1 de janeiro de 2012

Livro de Receitas - Casa Assistencial

Para todos aqueles que não entenderam muito bem o último post - Uma viagem gastronômica (http://caosfilosofico.blogspot.com/2012/01/uma-viagem-gastronomica.html), uma boa surpresa de ano novo está no ar. Foi lançado o livro "Receitas do Coração - Uma viagem gastronômica pela cozinha da Dona Ruthinha", com produção total deste blog. Tive a oportunidade de realizar essa parceria com a Casa Assistencial "Nosso Lar, Amigos do Bem" que, numa iniciativa muito boa, resolveu colocar em livro as melhores receitas de uma das mais tradicionais mestres cuca da região.
Incumbido de grande responsabilidade convidei um dos melhores designers para a diagramação (Rafael Sales Peres) e para a arte da capa arrebanhei a pedagoga e artista plástica nas horas vagas Katyane Lima Sousa. Resultado: um trabalho que (pelo menos para nós) ficou muito bom, porque aliou uma característica que acredito ser uma das mais prósperas, no caso a sincronicidade dos participantes. Durante a diagramação eu pensava em algo e quando ia ligar para o Rafael, este me mandava um e-mail falando exatamente sobre o assunto. Sempre trabalhamos lado a lado e isso facilitou tudo. Na capa, deixei a Katyane completamente à vontade para criar. Ela se inteirou do projeto, fez perguntas, procurou fazer uma conexão com tudo o que pensava e ponto: uma capa limpa, simples e com uma técnica muito peculiar ao próprio trabalho da Casa Assistencial. Foi essa técnica que deu origem ao nome Receitas do Coração.
Aliás, o nome foi muito trabalhado, assim como todos o material que nos foi confiado.
Agradecemos a Casa Assistencial pela oportunidade.
Quem quiser adquirir exemplares do livro, por apenas R$ 25,00, entre em contato. Além de adquirir uma excelente fonte de consulta culinária, você estará ajudando todo o trabalho social que é desenvolvido pela Casa. Ajudem!

Anderson Mendes Fachina

Uma viagem gastronômica

O trabalho em prol do ser humano é inegável quando o assunto é Casa Assistencial “Nosso Lar Amigos do Bem”. Reconhecida pela sociedade e alicerçada em bases sólidas calcadas com muito carinho, dedicação e amor ao próximo, esta empreitada tem, em sua concepção, uma filosofia muito positiva que reza: “é preciso
acreditar no ser humano e num futuro melhor”. Essa premissa por si só já seria combustível essencial para os trabalhadores da Casa ou para que qualquer pessoa siga adiante em seus propósitos.
Mas, as lindas palavras não param por aí, se traduzem na alegria, na dedicação e no sentimento de dever cumprido que toma conta das pessoas que acreditam numa sociedade melhor e que lutam por isso com abnegação e desprendimento.
E é justamente com este espírito que a Casa Assistencial lança o livro de receitas escrito pela dona Ruthinha, figura conhecida e muito bem quista na cidade. As receitas, que há muito encantam o paladar das pessoas hoje estão acessíveis e apresentadas de maneira muito didática e simples, revelando os segredos gastronômicos e incitando a imaginação dos leitores. Quem nunca comeu um “quitute” divino da dona Ruthinha e lambeu os beiços?
Além das receitas, os leitores também poderão acompanhar a própria história da Casa Assistencial, contada através das diversas fotos distribuídas, que traduzem além do bom ambiente que faz a entidade ser o que é, o contentamento dos assistidos e dos incontáveis parceiros e colaboradores, que também fazem parte dessa receita vitoriosa. As fotos ilustram o trabalho, a vida e o dia-a-dia da Casa. E foi realmente difícil escolher quais fotos fariam parte deste livro, pois cada uma tem sua peculiaridade em contar os fatos. E são tantos os trabalhadores e colaboradores que seria humanamente impossível agradecer e listar a todos. Que nosso agradecimento se traduza então por estes sentimentos aqui expostos.
Ingredientes postos à mesa. Receita de sucesso à mão. Resultado mais que conhecido: sucesso. E fica aqui uma ressalva importante. Ler o livro em busca das receitas é algo opcional. Mas, uma vez feito isso, a viagem é irremediavelmente inevitável. Então aproveite. Saboreie-se nesta viagem e contribua para a construção de um mundo melhor.

Anderson Mendes Fachina