domingo, 3 de junho de 2012

Quem deveria aprender com quem?

Recentemente tenho refletido muito acerca da criação de meu filho. A cada dia uma novidade se apresenta e o sorriso é sempre muito bem vindo. Aliás, sorriso igual ao dele não existe... Ele está andando, um presente de dia das mães, quando levantou e caminhou sem a ajuda de nenhum apoio. Ele brinca, come muito, fica doente, enfim, faz tudo que uma criança nesta idade deveria fazer.

A reflexão a qual me atento fica por conta de um comportamento muito bem marcado nesta fase. Tudo o que faço, ele tenta imitar. Outro dia pegou um tubo de cola fechado (ainda bem) e passou debaixo das axilas, simulando quando faço isso com o roll-on. Fantástico! Nem sempre prestamos atenção o quanto eles nos observam. Imitam-nos mesmo, prestam atenção em tudo, mexem em tudo, procuram por tudo, não param um minuto sequer. Aí vem a constatação mais perigosa de todos: quando eles nos imitam, não sabem diferenciar o que é correto e o que não é, não têm capacidade de medir se o que fazemos está correto, se o que falamos está certo ou se nossas ações são boas ou más. Eles simplesmente imitam. E tão claro quanto isso é a constatação de que imitar acaba trazendo certo “aprendizado”. Então eles aprendem tudo o que fazemos, seja isso certo, seja isso errado.

Na atual conjuntura em que nos encontramos, muitas coisas ruins permeiam nossa vida e isso é algo muito forte dentro do cotidiano. Cotidiano esse recheado de informações, recheado de componentes que fazem da nossa vida algo muito rápido, muito volátil. Assim sendo, há muita coisa ruim para eles aprenderem. E eles aprendem.

Agora vem a questão: Quem deveria aprender com quem? Eles conosco ou nós com eles? Façamos uma breve análise.

As crianças são alegres, sorriem para tudo. São tímidas às vezes, são puras em suas considerações e na lógica que fazem das coisas. Têm uma inocência tão etérea que consegue nos desarmar por completo. Quando minha sobrinha era pequena, estávamos uma vez no mercado e ele pediu para que eu comprasse algo. Respondi que não tinha dinheiro. Ela simplesmente disse: “Então passa o cartão”. É a lógica inocente. É a pureza nos sentimentos. Sempre conto uma história que ouvi certa vez: “A criança foi na missa com os pais e no meio do sermão, gritou bem alto um palavrão, chamando a atenção de todos. Os pais ficaram vermelhos de vergonha. Ao final, disseram a todos que a criança nunca havia tido esse comportamento, que ela nunca havia dito um palavrão. Outra pessoa disse: Acredito que ela nunca teria dito um palavrão, mas pode ter certeza, ela já deve ter escutado vários”.  Verdade. Em algum momento ela escutou isso... E aprendeu!

Então, ao invés de nós, adultos, aprendermos a sorrir como as crianças, aprender a não ver malícia nas coisas, aprender a ser ativo o dia todo, deixando pra lá a ociosidade da vida cotidiana, são eles que aprendem conosco. Esse aprendizado deve ser de mão dupla. Devemos aprender com eles também. Mas para isso precisamos fazer um grande esforço em prestar atenção nas pequenas coisas, nas coisinhas que passam despercebidas em nossa vida.

E para perceber a beleza do pequeno é preciso deixar de ser grande, deixar de nos posicionarmos como donos do saber e olhar para nossos filhos como quem procura pela sabedoria, como que quer se saciar com o maravilhoso. Ficamos bobos sim, é verdade. Mas essa “bobeira” deve ser refletida em aprendizado, em sorrisos. Sorrisos e atitudes sinceras. Sorrisos e vontade em viver alegremente.

Anderson Mendes Fachina