segunda-feira, 12 de março de 2012

O dom da leitura

O bom entendimento de um texto requer uma leitura que seja direta e alcance os objetivos iniciais que o leitor traçou quando iniciou esta tarefa. "Entender", segundo o dicionário “Michaelis”, em sua edição eletrônica, significa “1. Ter idéia clara de; compreender, perceber. 2. Ser hábil, perito ou prático em. 3. Crer, pensar. 4. Interpretar, julgar. 5. Ouvir, perceber. 6. Ter prática ou teoria. S. m. Juízo, opinião”. Dentro desta perspectiva, a leitura se torna algo ainda maior quando o texto explicita algum conceito, idéia, opinião, abstração, parecer, fundamento, etc., que se queira, em tese, ser conhecido e entendido por aquele que tem contato com os escritos.

Diante do desafio que é, efetivamente, entender aquilo que se lê, surge a preocupação em se procurar uma estratégia que se torne eficaz no sentido de fazer com que o leitor consiga, de maneira objetiva e clara, alcançar seu intento. Quando se fala em texto de origem acadêmica então, a tarefa é dobrada. Para tanto, o texto deve ser entendido, primeiramente, como parte de um grupo em específico, o que facilita a escolha da melhor alternativa para seu enfrentamento, pois se lê um texto de um gibi, por exemplo, diferentemente de como se lê um texto de uma bula de remédio ou de um editorial de jornal. Cada texto tem algumas peculiaridades que são importantes e devem ser observadas pelo leitor para que não haja surpresas quando da leitura.

Quando sabemos, através do título, da sinopse, das críticas, do sumário, etc., qual o conteúdo que o texto aborda, temos uma previsão daquilo que a leitura pode trazer, essa é a primeira estratégia que o leitor deve utilizar. De posse deste pré-conhecimento, e confrontando com aquilo que já conhecemos sobre o assunto, podemos utilizar ainda outras duas estratégias.

- A da leitura rápida, quando o leitor busca ver o texto de maneira acelerada e ampla, pinçando em suas linhas as informações principais e os grandes temas que ele aborda como forma de entendê-lo como um todo. Como exemplo a leitura de uma matéria jornalística normal.

- A da visualização da informação, quando, de posse do pré-conhecimento do tema, o leitor busca no texto informações específicas sobre o que está procurando. Como exemplo os efeitos colaterais de determinado remédio indicados em sua bula.

            Todas as estratégias descritas são utilizadas quase que mecanicamente, conforme se aprimora seu emprego e são cada vez mais aperfeiçoadas quando o leitor tem o hábito presente da leitura. O conhecimento que a leitura transmite é algo que dá a segurança para que o leitor vença o desafio de entender determinado texto e de se utilizar, com maestria, das expressões bem construídas e da gramática correta que quando se fala ou se produz seu próprio texto. Essa segurança é o indicativo não só de uma boa leitura e produção de texto, é também algo que dá ao seu possuidor a capacidade de pensar e articular melhor seus conhecimentos e de nunca ser lesado pela ignorância.

Anderson Mendes Fachina

domingo, 11 de março de 2012

Acapulco

Hoje acordei cedo ao lado do meu filhotinho e liguei a televisão para dar uma zapeada pelos canais. Às vezes gosto de assistir o Globo Rural ou um daqueles programas informativos que passam nos horários onde muitos nem ligam a televisão, afinal, quem acorda antes das 9h no domingo?
Turma do seriado Chaves

Qual foi minha surpresa quando passei por um canal onde passava o seriado Chaves. Surpresa não pelo seriado em si, uma vez que a qualquer hora do dia no referido canal é possível assistir ao programa do Chaves. Surpresa porque há muito tempo não assistia ao episódio onde todos vão para Acapulco (eu sei que ele deve passar pelo menos umas três vezes na semana, mas faz tempo que não o via).

Para que não se lembra deste episódio (existe alguém que não lembra?), a Chiquinha compra um pote daquelas pastas brancas para limpar prata usando 20 mangos que “pegou” na gaveta do Seu Madruga. O professor Girafales encontra a pasta e como sabe que na casa da Chiquinha não há nada de prata, ele desconfia que ela surrupiou a pasta em algum lugar. Logo descobrem que ela comprou a pasta para concorrer a uma viagem a Acapulco, que acaba ganhando. Com a ida da Chiquinha e Seu Madruga, a Bruxa do 71 também decide ir. Por puro despeito, a Dona Florinda e o Quico também vão, assim como o professor Girafales. Ao saber que todos seus inquilinos tiraram férias, o Seu Barriga também decide ir e leva o Chaves. Em Acapulco, as mesmas palhaçadas e brincadeiras de sempre e a certeza de que iremos rir do início ao fim.

Assisti ao episódio e mais uma vez me coloquei a pensar como um seriado tão antigo consegue arrancar nossas risadas com as mesmas piadas de mais de três décadas (o episódio de Acapulco foi gravado em 1978). Sem apelação, sem mulheres seminuas, sem palavrões, sem recursos especiais, sem nada de diferente. Aliás, a produção do programa era muito simples, com os personagens num único set, mesmos figurinos e baixo orçamento. Talvez seja essa simplicidade a “alma” do seriado. Não sei ao certo, mas há uma magia impar neste seriado que fez com que minha avó, minha mãe, eu e logo meu filho, sorriam sem parar das trapalhadas da trupe.

Quantos programas bestas vemos hoje serem produzidos por essa televisão brasileira (infelizmente são programas que vendem, pois há público)? Quanto lixo há na “telinha” (e a telinha em alguns lugares já tem mais de 40 polegadas)? Quanta podridão?

Não sei até quando darei risada com o Chaves. Só sei que ele me faz lembrar a simplicidade da vida e do cotidiano. Só sei que quando escuto frases do tipo “pois é, pois é, pois é”, “foi sem querer querendo”, “não se misture com essa gentalha”, “e da próxima vez, vá... na sua avó”, “tinha que ser o Chaves”, me transporto para um passado não muito distante, onde sinto o cheiro da terra, da comida da minha mãe, da vida.

Anderson Mendes Fachina

domingo, 4 de março de 2012

Quatro reais... Foi o que sobrou

Ela estava totalmente frágil e procurava um sentido para sua vida amorosa. Mas o caminho estava errado e eu sabia disso desde o primeiro momento. Não podia ser diferente, a rol de clichês estava sendo usado à exaustão... E isso, ela nunca vai poder dizer que não foi dito. Eu alertei, e como alertei. Pense: princesa e anjo sem asas não podem ser elogios realmente verdadeiros para um primeiro encontro, ou décimo que seja. Aliás, nada mais démodé, certo?

Bom, mas acontece o seguinte: aconteceu. Ela ficou toda derretida e ele, ao chegar em casa, fez mais um risco na parede.

Numa situação destas, as coisas em ambos os lados se processam de maneira muito diferente. Para ele, um troféu, mais uma conquista (e a renovação das mentiras contadas). Para ela, um momento especial, inesquecível, a celebração da vida.

Mas a mentira estava traçada perfeitamente. Ele estava em apenas uma pequena passagem pela cidade e omitiu isso a todos. Num belo dia, entre juras de amor e saudades, ele disse que iria para São Paulo ver a mãe e retornaria no domingo. Chegou o domingo e ele não deu notícias. Setenta e oito ligações perdidas depois ela descobriu: ele havia ido embora para outra cidade, outro serviço e ainda era casado. O anjo sem asas caiu no choro. A princesa perdeu o seu sapatinho de cristal.

"Quatro reais, foi o que sobrou”, disse ela. Quatro reais em créditos de celular que ele havia bancado para que eles se comunicassem. Um investimento que lhe valeu uma boa conquista. Uma sobra que valeu a ela nada. E mais uma desiludida do amor povoa a terra...

Anderson Mendes Fachina