quinta-feira, 26 de abril de 2012

Decepção


Hoje eu tive a certeza de que pensar ao contrário, quando se está decepcionado, é algo extremamente difícil. Aliás, a decepção chega rompante, montada num cavalo branco num cavalgar avassalador. Tira-te o chão, o ar, os pensamentos bons, tira-te o norte, o sul, o leste e o oeste.

Há tempos não me sentia assim (salvo as decepções sobre minhas ações e atitudes, que são quase que instantâneas quando faço algo errado). Há tempos eu não ficava tão fora de mim, deixando os sonhos em segundo plano. Em segundo plano não, enterrando os sonhos sob uma camada grosseira de pedras a assentos. Nem o brilho juvenil do horizonte que me cerca conseguiu mudar o panorama da frustração da minha mente.

Fiquei extremamente decepcionado. Fui do céu ao chão em questão de milésimos de segundos. Cai de cara. E minha face ainda está enterrada no lugar em que despencou. Uma certeza se fez presente. Acreditar é antes de tudo uma questão de fé. Fé em algo que julgamos importante. Mas a certeza que se fez presente não foi essa. A certeza é de que quando baseamos esse acreditar naquilo que não é entendido, vemos que o não entendido é na verdade, não verdadeiro.

Anderson Mendes Fachina

quarta-feira, 18 de abril de 2012

O mesmo sonho

Este sonho tem se tornado corriqueiro. Não é bom. Não é um sonho que se deseje ter. Nele eu vejo cenas que nunca deveriam fazer parte da minha vida e sempre acordo em aflição, em total medo. Não que eu quisesse parar de sonhar. Mas ultimamente meus sonhos não são bons. Não estão sendo sonhos. Pesadelos? Não sei.

Neste sonho eu vejo uma pessoa muito próxima. Ela não me reconhece como tal e mostra o quão sua vida é superior, mesmo sem a minha presença. Mesmo sem a história que nos une. E pior, não há passado, não há sequer história, apesar desta se passar em razão de segundos em minha mente.

Nesta não-história, sou feliz. Nessa não-história tenho a vida que pretendia ter. Mas uma ressalva deve ser feita: quem desconstrói essa não-história sou eu mesmo. Sou eu quem a escreve por entre as linhas paralelas deste caderno que é a vida.

Então no sonho vejo o infinito sem luz. Vejo a luz sem interruptor. Vejo o interruptor, mas minha mão não o alcança. Aliás, não tenho forças para nada a não ser chorar. Um choro resquicioso, um choro que mostra a minha fragilidade diante da avassaladora passagem da borracha que reescreve o futuro.

Às vezes penso: Quem comanda a borracha? Quem posiciona o lápis? Quem vê por entre as linhas traçadas e encontra as brechas da felicidade e da solidão? Mas isso não importa durante o sonho. O que importa é que sofro e vejo isso com meus olhos lacrimejados. Nesta turves que me embala o ser, encontro um propósito muito forte. Sou impelido a acreditar que se trata de um sonho. 

No soluço da verdade, só tenho uma certeza: vou voltar a dormir, vou voltar a sonhar.

Anderson Mendes Fachina

domingo, 8 de abril de 2012

Ele está morrendo

Por todos os ângulos que eu olho, vejo a mesma coisa: ele está morrendo. Não que ele estivesse em plena vivência, gastando saúde ou mesmo com fôlego para dar algumas caminhadas, mas está morrendo. Está morrendo porque não consegue mais. Está morrendo porque não encontra parâmetros do outro lado. Está morrendo porque a morte pode ser a sua salvação. Está morrendo porque a morte pode significar uma nova vida em outro lugar. Um lugar onde sua imaginação tem asas e a vida tem algum sentido.

Durante muito tempo ele acreditou neste teatro. No fundo ainda acredita. Mas sabe que quando o roteiro é escrito por um autor intransigente, que evoca todas suas perspectivas de vida para falar que é o dono da verdade, que conhece a arte como ninguém, não adianta tentar ser espontâneo, não adianta tentar querer mostrar que tem também um bom lado artístico. Tem que seguir o roteiro e ponto.

Outro dia tentou comemorar um ano de bons e maus momentos, mesmo porque acredita que essa vida deve ser celebrada. Mesmo porque acredita que os passos estão sendo dados, e ele ainda está aberto. Mas essa comemoração ficou para trás. Foi vencido pelo cansaço da falta de imaterialidade do outro. Foi vencido pela falta de sonho do outro. Foi vencido pela vida onde ele não habita, não faz parte. Uma vida onde ele tem apenas uma função: ajudar. Não faz parte dela, não foi considerado em sua construção... Mas é cobrado a ajudar, é cobrado com afinco, sob pena de ser excluído dos demais processos, como o é sistematicamente.

Ele está morrendo, apesar da vida belíssima e pequenina que tens em mãos. Uma vida que lhe encanta a todo o momento. Uma vida que deveria ser celebrada, mas não é. Pena, talvez seja a única vida que realmente importa, já que a sua não existe.

Ele está morrendo... Mas a morte é dolorosa e implacável. Seu processo é penoso demais às vezes. Ele está morrendo... Mas ao mesmo tempo ainda tenta entender o que está acontecendo para poder continuar a pensar: já que a morte é dolorosa demais, talvez só lhe reste uma saída.

Anderson Mendes Fachina