Eu era muito pequeno e já andava contigo na garupa da
bicicleta por toda a cidade, principalmente aos domingos pela manhã. Lembro de
um short azul, uma camiseta amarelo claro e uma conga azul que eu usava na
maioria de nossos passeios. Lembro-me da sensação de vento no rosto, do
gostinho do sol e da sua companhia, que sempre era muito boa. Cruzávamos a
pista sempre com atenção aos carros que ali passavam em alta velocidade. Naquela
época a pista nem era duplicada, nem todas as ruas de nosso bairro eram
asfaltadas, não existia cadeirinha de bicicleta e eu ia pra escola de mãos
dadas com minha irmã. Outro tempo. Outro tempo que não volta mais. Outro tempo
onde nossas brincadeiras eram inocentes, porém muito imaginativas, pois tínhamos
nosso próprio mundo de fantasia.
E sair contigo de bicicleta aos domingos fazia parte deste
mundo fantasioso. Andávamos meio que sem rumo, mesmo sabendo eu que haviam
algumas paradas obrigatórias durante esse trajeto. E esses locais de parada
sempre foram muito bem conhecidos por mim. Eu os freqüentava contigo desde pequenino
e gostava da possibilidade de ganhar um doce, tomar um guaraná enquanto o
senhor conversava e tomava uma cerveja. Era legal colecionar aqueles
indiozinhos que vinham naqueles doces de banana açucarados. Eu tinha vários
deles. Era legal também ganhar uma maria-mole com bexiga ou mesmo uma paçoca,
um doce de leite... Eu sempre gostei de doce.
Às vezes eu ficava brincado com as bolhas na mesa de bilhar.
Nem conseguia pegar o taco corretamente e, por mais que perguntasse, não
entedia nunca pra que servia aquele giz azul ou porque a bola de número 15 só
entrava na mesa quase no final do jogo. Porque todas as bolas podiam brincar e
ela só entrava no final?
Ainda lembro... Ainda me lembro dos dias em que saímos a e
chuva nos pegava no caminho. Se fosse necessário passávamos o dia todo fora de
casa. Em algum momento nesses passeios, chegávamos à casa da vovó. E eu gostava
de passar lá. Sempre fui o primo mais velho, nunca brinquei muito com os outros,
mas gostava muito de ficar no meio dos meus tios. Gostava de brincar com o
Marquinho, com o Cláudio e escutar as histórias do Zicão, do Paulo, do Chapéu e
do vovô, além de tentar entender o que o meu tio Tonho dizia. Eu era muito
criança, mas adorava estar no meio deles.
Meus domingos ao seu lado eram assim. Lembro-me como se
fosse hoje. Lembro-me como se estivesse esperando seu chamado para sentar na
garupa da bicicleta. Bons tempos. Quantas saudades de ti pai.
Hoje faz dois anos e eu ainda sinto saudade daquilo que não foi.
Rezo sempre por ti. Um beijo.
Anderson Mendes Fachina
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