segunda-feira, 24 de junho de 2013

Da mihi castitatem et continentiam, sed noli modo (2)

continuação...

Ainda não havia dormido, mas os pensamentos começavam a serenar, a ponto de conseguir relaxar um pouco. Foi assim e isso não poderia ser mais mudado. Acordou pela manhã com uma disposição que há muito não apresentava. Voltou a ler sua revista preferida, profetizou algumas palavras de ânimo e mais uma vez saiu em busca de algo.

“Ela estava imóvel. Imóvel como o tempo até então. O ar parado, o sentimento de exagero e as condições mentais em que ele se encontrava eram ingredientes propícios para ver, mesmo que os olhos não registrassem. Andou mais um passos. Titubeou entre um e outro. Mas um misto de enfretamento e curiosidade lhe era mais claro naquele momento. E foi. Ou melhor, foi-se. Ou melhor, ainda ela havia ido, havia deixado aquele plano. E aquilo não era um corpo propriamente dito, era mais uma imagem... Apenas mais uma, se pode-se dizer assim. Apenas mais uma naquele quebra-cabeças que ela alimentava a passos largos. Mas nada que lhe fosse desconhecido, nada que lhe fosse novo.

Naquele instante pensou em seu genitor. Pensou em suas últimas palavras e na condição de tutor ao qual havia se posto. Pensou no que foi dito, no que ficou por entre as linhas e naquilo que nem dito havia sido. É era justamente esse dito – não – dito que lhe tirava a respiração. Nada, nada, nada. Tudo, tudo, tudo... ‘Que oportunismo’, pensou. Ou melhor, ‘que oportuno’. Não poderia então ser diferente. Ele estava decidido. Decidido em fazer o que já deveria ter sido feito desde sempre. Mas que lhe era bastante doloroso. Tinha que fazer e ponto. Conseqüências? Não, congruências. Nada poderia voltar ao seu devido lugar depois daquilo. E nada daquilo encontraria lugar em sua vida. Simples assim”.


Entrou no carro e seguiu em frente. Não sem antes engatar uma ré para manobrar.

Continua...


Anderson Mendes Fachina