O episódio da noite das
tormentas, como ele próprio definiu ainda não lhe saía da cabeça. E pensar que
já se haviam passado vários dias, mas as cenas daquele fatídico dia ainda lhe
eram claras como o dia, era uma coisa deveras pesada. Ele precisava tirar isso
rapidamente de sua mente.
A cada minuto sua mente era
alvejada com uma lembrança penosa. E entre uma conversa e outra, uma tarefa e
outra, as coisas em sua mente pareciam ainda piorar. Remoer as coisas é o que destrói
nossa mente, pensava. E em meio ao pensamento, as cenas, os lances, as
lembranças. E assim sendo, as dores de cabeça eram constantes. Dormir então,
nem pensar. Mas, contrariamente à presença de seus pares, era na solidão da
noite em que seus pensamentos destrutivos eram mais bombardeados.
O entendimento da mente ainda é
um campo que caminha a passos lentos. Não há muita lógica em certas coisas. Não
há coisas em certas lógicas. Era então no silêncio das falas que seu pensamento
fazia os melhores julgamentos. Mas era neste mesmo silêncio que as construções
mentais também eram superdimensionadas. Ao mesmo tempo em que refletia melhor
sobre o ocorrido, criava novas situações a partir da já famosa mola de
pensamento: “e se?”. E naquela noite uma nova história foi criada nesse campo
tão fértil.
“Já se passavam alguns minutos
das nove horas da noite. Ele andava a passos largos sem olhar pra trás. Seu celular
já havia tocado algumas vezes e ele nem se deu ao trabalho de ver quem poderia
ser. A velocidade das passadas aumentava à medida que parecia estar mais
próximo de sua parada. Mas os quarteirões pareciam se infindar. E os passos
mais rápidos aumentavam ainda mais. Mas ele viu a porta. Ela estava lá. Chegou.
Abriu. E entrou sem pensar em mais nada.
Mais uma porta e um lance de
escada depois ele a avistou. Estava sentada lendo algo. Ele a chamou pelo nome.
Ela não respondeu. Ele a chamou com mais firmeza. Mas não encontrou resposta. Tocou
em seu ombro e a sacudiu. Ela estava imóvel...”
O sonho acordado lhe visualizou
uma nova possibilidade que talvez se encaixasse perfeitamente na obra como um
todo. Já eram quatro horas da manhã e ele ainda não havia dormido um minuto
sequer.
Continua...
Anderson Mendes Fachina