quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Entrevista com Divaldo Pereira Franco - Confira os melhores trechos

Confira agora os melhores trechos da entrevista veiculada no Jornal "Panorama Espírita" com o orador espírita "Divaldo Pereira Franco", realizada durante palestra para mais de 1200 pessoas na cidade de Barretos, no dia 19 de novembro.


Panorama Espírita: Há anos o Senhor vem fazendo este belíssimo trabalho de divulgação da doutrina espírita país afora. Como o Senhor vê esse trabalho?

Divaldo Pereira Franco: A divulgação do espiritismo é essencial. Toda idéia necessita de ser apresentada ao público com os valores que constituem seus paradigmas. Desde quando eu me tornei espírita no ano de 1947, fui convocado à tarefa da divulgação dos postulados básicos desta doutrina excepcional. A partir daquela data já visitei mais de 2000 cidades em 65 países de cinco continentes. Retornar a Barretos é revitalizar o entusiasmo em mim próprio e intercambiar com os bons trabalhadores da doutrina, qual acontecia nos tempos apostólicos, à mensagem de renovação que está sempre atualizada dentro dos postulados da cultura de todo o tempo.

P.E.: Sabemos que estamos passando de um planeta de provas e expiações para um planeta de regeneração. Qual o papel do jovem neste processo?

Divaldo: Segundo a doutrina espírita nós vivemos num mundo inferior, que é a Terra. Porque aqueles que a habitam ainda são Espíritos inferiores. Mas como existe uma lei universal, tudo é progresso. Allan Kardec demonstrou que os mundos também evoluem e o mundo pode passar de um mundo de provas e expiações para um mundo de regeneração. É o que vem ocorrendo. Esse mundo de regeneração será aquele ao qual o sofrimento sedará lugar a paz, a plenitude. Mas não será um golpe de surpresa, nem de uma vez, é um lento processo natural que já vem ocorrendo e cujo clímax está mais ou menos previsto para os anos após 2050. O jovem tem um papel fundamental, porquanto ele é este porvir, é o amanhã, é a esperança. É natural que ele pode contribuir tendo uma vida saudável, dedicada ao bem, tornando-se o exemplo daquilo que a doutrina nos ensina. Mais importante do que a rotulagem de qualquer doutrina é a conduta: Mais vale um individuo que não tenha religião e seja um bom cidadão do que aquele que tem uma religião formal e, no entanto, tem uma conduta irregular.


P.E.: Nos dias atuais, fica evidente a intolerância à tristeza. Indivíduos buscam pílulas mágicas, alívio nos vícios e apoio na fuga do sofrimento oriundo de seus atos. Isso revela uma inabilidade com a emoção, pois, na maioria das vezes, é na dor que surge a motivação para o aprimoramento moral. Num mundo onde "pensar antes de agir" está em desuso, qual o caminho mais próximo para o entendimento do que é "estar triste"? Como o senhor avalia estes males deste novo milênio?

Divaldo: Eles fazem parte do processo. Cada época é assinalada por determinados comportamentos saudáveis e negativos. Desde o fim do século passado, a Organização Mundial da Saúde considera que estamos no período da Depressão. A depressão hoje é de natureza pandêmica, resultado naturalmente dos nossos atos inglórios do passado. A depressão tem fatores de natureza interna, fatores endógenos, a hereditariedade, as enfermidades infecto-contagiosas, as seqüelas das enfermidades infecto-contagiosas e fatores exógenos, chamados “eventos da vida”. São os transtornos de natureza social, econômica, moral, os distúrbios familiares e os desajustes sexuais que levam a carência da dopamina, da noradrenalina e da serotonina. No entanto merece considerar, a luz da doutrina espírita, que nós vivemos num mundo de relações, que muitos casos de aparência depressiva clássica, são fenômenos de obsessão. E o espiritismo é a psicoterapia eficiente, para todos os males que afligem a humanidade.

P.E.: O fato de a ciência admitir atualmente a existência de algo eterno, que foge à compreensão do ser humano no atual estágio em que se encontra, já constitui grande aliado em nosso progresso espiritual. Porém, ainda materialista, a ciência hoje apresenta resultados que muitas vezes conferem apenas status aos pesquisadores envolvidos ao invés de beneficiar a população que sofre com suas dores físicas. Como é possível conciliar ciência e religião uma vez que os interesses de caridade e amor ao próximo nem sempre são os mesmos  nessas vertentes?

Divaldo: Ocorre que a ciência é neutra. A opinião é de cientistas. Desde o século XIX, que nós temos o apoio de eminentes cientistas como William Crookes, César Lombroso, Charles Richet e dezenas de outros que se dedicaram a investigar os fenômenos, a época chamados de natureza metapsíquica, depois de parapsicológicos e mais tarde de psicobiotrônico, que nós chamamos de fenômenos mediúnicos ou fenômenos espíritas. Mesmo na atualidade, o grande número de psiquiatras, psicólogos, psicanalistas, biólogos e estudiosos do comportamento constatam que a realidade da vida é de natureza imortal. E hoje o pai da psicologia analítica, dizia que a psique é eterna. O que ele chama de psique nós chamamos de alma, de Espírito. Então estes cientistas afirmam a imortalidade da alma, mas a ciência como um todo jamais poderá afirmar, porque ela não possui mecanismos para provar. Só o espiritismo produz a metodologia da experimentação. E então esta metodologia da experimentação é a mediunidade.

P.E.: O filósofo alemão Arthur Schopenhauer, afirmava que o ser humano busca o prazer cada vez mais adquirindo frustrações. Sua filosofia era extremamente pessimista. Hoje é perceptível que o ser humano alicerça sua vida principalmente no ter, não no ser. Como conseguir passar uma mensagem limpa neste sentido?

Divaldo: Vou mudar o foco. No pessimismo de Schopenhauer, ele costumava dizer que tudo que a criatura humana toca, perverte. E não é verdade. Naturalmente a criatura humana quando recebe uma idéia, adapta essa idéia a sua forma de ser, o que é um erro. Ao invés de aderir à idéia, adapta a idéia à sua forma de conviver. Mas, por outro lado, ele abriu grandes espaços para a investigação filosófica. A melhor maneira de nós procurarmos demonstrar que o “ter” não é fundamental, é dando o exemplo. Porque não adianta filosofar. A humanidade está cansada de teorias. Ela necessita de exemplos. E se nós elegermos o “ser” como recomendava Sócrates, naturalmente o “ter” ficará em plano secundário. Mas também ninguém pode ser feliz sem ter coisa nenhuma, que era a teoria de Diógenes. É natural que o indivíduo realize o ter para produzir o progresso da sociedade, mas não dependa dele. Possuir sem ser possuído pela posse possuidora.

P.E.: Na passagem do evangelho "reconhecece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que toma para domar suas más inclinações" sabe-se o quão difícil é a mudança dos maus hábitos, a mudança da postura em relação às ações, pensamentos e vícios perniciosos que acompanham o Espírito por vezes por várias encarnações. Nesse ínterim, qual o primeiro passo para tornar possível nossa regeneração moral?

Divaldo: Pelos pequenos maus hábitos. Porque o que hoje é um hábito secular, mais tarde o hábito secular será o bem. Deve haver a mudança do nosso comportamento. Como nós começamos a andar? Começamos a falar errando. Começamos a pensar, com dificuldade. Também do ponto de vista moral, devemos estabelecer determinados padrões e insistir, cair e levantar, até criar o condicionamento.

P.E.: Muitas pessoas vivem hoje uma simulação da vida. A verdade que lhes norteia o ser é a ‘verdade’ pregada pelos meios de comunicação de massa, pelas novelas. É o Mito da Caverna de Platão ao contrário. Agora o homem volta para a caverna e prefere viver uma vida de sombras. Como podemos interpretar isso?

Divaldo: Em realidade não vejo o mito da caverna por este aspecto. Ocorre que a vida tornou-se muito violenta e a comunicação virtual empurrou o individuo para dentro de casa. Então ficou mais fácil e cômodo manter os relacionamentos virtuais do que os relacionamentos pessoais, o que é lamentável porque afasta o individuo do calor humano. E o ser humano é eminentemente um animal e necessita da presença dos outros. Desta maneira, nós deveríamos convidar o individuo para que ele cultive a cultura virtual, mas para que ele se relacione em torno da sociedade, que é o grupo que vai evoluir para a construção de um mundo melhor.

P.E.: Deixe uma mensagem final para nossos leitores.

Divaldo: A nossa mensagem é a do amor e do sentimento de paz. Somente quando nós estabelecemos diretrizes de equilíbrio interior, é que nós adquirimos saúde. Porque saúde, segundo a Organização Mundial de Saúde, não é a falta de doença, é o resultado de três fatores que se conjugam: bem estar psicológico, harmonia mental e realizações socioeconômicas. Com estas realizações socioeconômicas nós promovemos a sociedade. Promovemo-nos. Então nossa mensagem está equiparada nas seguintes palavras: seja você quem ama, se você não for amado, isto não é importante. Mas se você amar, isso fará de você eminentemente feliz. Na vida todos temos inimigos, mas isso é secundário. O importante é não ser inimigo de ninguém.



Equipe do Panorama Espírita envolvida na cobertura do evento: Ademir, Fernando, Elaine, Philipe, Gustavo, Anderson, Talitha, Andréia e Sebastião, juntamente com Divaldo e com o Presidente da Federação Espírita do Paraguai, Milciades Lescano.

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