terça-feira, 14 de agosto de 2012

Eu quero minha sanidade de volta


Ele sempre foi um cara complicado. Não que ele desejasse isso, mas as circunstâncias nunca o deixavam respirar livremente, pensar somente em si e nos seus sonhos. Ele sempre carregou uma bagagem muito maior do que precisava para viver. Apesar de todo essa complicação, algo sempre o colocava em destaque. Era uma pessoa divertida, amável, que sempre arrancava sorrisos e que fazia amigos com facilidade. Porém a vida nunca lhe sorria com o mesmo vigor que os outros.

Mas isso nunca foi um problema para que ele seguisse com sua vida. Aos trancos e barrancos, sempre conseguia seus intentos. Sempre pensava que um dia as coisas haviam de melhorar.

Certa feita, uma experiência traumática lhe tirou o chão. Perdeu amigos, se afastou de várias pessoas, viu sua vida ruir e muitas das coisas que havia construído no campo ideológico/ social/ religioso foram tidas como nulas. O episódio em questão e todos os seus reflexos fizeram com que muita gente esquecesse o que ele havia feito de bom. O que ele havia reerguido foi meio que tomado por outros. E ele caiu.

Caiu como já havia caído outras vezes. E se reergueu. Assim como havia se reerguido outras vezes. Mas como dizem os antigos “besteira pouca é bobagem”. E então ela apareceu.

Ela apareceu quase que do nada. Até dias antes, ignorava a existência dela. Ela apareceu lhe tirando toda e qualquer possibilidade de reação contrária. Um amor arrebatador, diriam alguns. A metade da laranja, diriam outros. E o céu, pelo menos o seu céu, se abriu em resplendor. E a vida ganhou ares de romantismo, lirismo, realismo. Real porque nunca havia vivido daquela maneira e para ele era assim mesmo que deveria ser a vida: alegre, festiva, amorosa...

Esqueceu-se de vários problemas. Via os sonhos tomando novas roupagens. Esqueceu-se da dor de carregar um fardo que não era somente seu. Enfim, a fotografia de sua vida estava mais colorida, mais compassada, muito mais agradável.

Ela não era uma mulher fatal, mas estava perto. O trouxe para o seu mundo e arrebatou seu coração como quem agarra com ambas as mãos um prato de comida após dias e dias de jejum. E ele foi agarrado... Física e psicologicamente. Ai nasceu o erro da relação.

O encanto vivido escondia ainda mais algumas nuances não tão superficiais. O mundo dela era diferente do dele. E uma vez passado o perfume que faz de todo e qualquer amante um príncipe/ princesa, o castelo mental até então construído em bases sólidas começou a ruir.

Ela era inconstante. Queria, não queria. Tinha orgulho, tinha vergonha. Era amorosa, era ríspida. Nada fazia sentido em suas atitudes. Não que estas não se justificassem. Não faziam sentido porque não tinham uma linha racional que lhes conduzisse. Ele, ao contrário, buscava sentido para tudo o que estava acontecendo e, ao mesmo tempo em que sentia e oferecia um amor verdadeiro, começava a ver que seus sonhos, mais uma vez, poderiam não ter um final feliz.

E ela o esgotou. Esgotou toda sua capacidade mental em raciocinar com primor. Ele agora não tem chão em seus pensamentos. Não sabe mais o que quer, não sabe para onde isso tudo vai se encaminhar. Não consegue mais sorrir verdadeiramente.

Essa nova fase o reaproximou de alguns velhos amigos. Amigos verdadeiros que as vezes lhe servem de parada. Mas nem mesmo esses amigos conseguem mensurar até que ponto as coisas se processam em sua mente... E principalmente como se processam esses pensamentos. Eles percebem que ele não tem mais paz. Suas forças se mostram muito pequenas, dentro daqueles olhos fundos, cansados.

Sua sanidade está em risco. A linha tênue entre a felicidade e a loucura está sendo ultrapassada. Ele estava quieto, em seu canto. Não havia pedido isso. Ela apareceu por uma conjectura mal feita do universo. Triste. Espero que o pouco que lhe resta seja capaz de fazer vê-lo que isso não é amor.


Anderson Mendes Fachina

Nenhum comentário:

Postar um comentário