Minhas sinceras desculpas por ter sido tão infantil ao ponto
de te usar como um simples objeto. Minhas sinceras desculpas por não ter
enxergado o quão diferente e colorida era você no meio de todos aqueles tons de
cinza. Minhas sinceras desculpas por entrar no seu mundo pela porta da frente,
tomar de assalto toda a sua vida, mirar o horizonte e sonhar alto e, depois,
sair pela porta dos fundos como um animal arredio.
Minhas sinceras desculpas pelo fracasso que se tornou nossa
tentativa inexata em se fazer sermos dois. Minhas sinceras desculpas por aquela
cena nonsense, quase surreal, de esmagamento daquilo que ainda nem tínhamos. Minhas
sinceras desculpas por ser fraco, seco e distante.
Lembra aquele dia em que encontrei o seu mundo? Aquele
passeio na praça deserta, o som quase de inaudível daquela noite calma, tranqüila.
Lembra da hora em que te deixei em casa? Lembra da loucura, dos beijos, das palavras,
dos olhares? Lembra?
Então... Eu esqueci. Esqueci que aquilo poderia ser
verdadeiro. Esqueci de tentar entender tudo aquilo que se passava em minha
vida. Não entendi. E não entendendo processei tudo errado. E nesse processo, você
que mal tinha entrado, teve que sair. Ou melhor, eu saí. Saí de arrombo, numa
só empreitada. Saí correndo, sem olhar pra trás.
É... Demorou... Mas eu olhei pra trás. Primeiro olhei de
relance. Primeiro olhei sorrateiramente como quem sabe que olha com vergonha. Vergonha.
Só isso. Mas mesmo nesse olhar meio que de lado eu percebi. Percebi que tudo
havia se esvaído, tão rápido quanto a minha partida. Tão rápido quanto o meu
raciocínio em perceber que meus atos não haviam sido corretos. Não demorou e
sua vida já era outra.
Sua vida já era outra completamente diferente. E a minha, a
mesma. Os mesmos problemas, a mesmice de sempre e a certeza da insatisfação. Apenas
uma constatação mais aprofundada: eu tinha o pseudo-domínio, a falsa posse e eu
sabia disso. Mas, na minha pequenez, era isso que me fundava naquele chão. Quão
pequeno e mesquinho eu fui.
Minhas sinceras desculpas. Desculpas que talvez não lhe
façam sentido. Desculpas que talvez nem lhe lembrem esse algo que existiu.
Desculpas que talvez ficaram num tempo tão distante que não tenham mais razão
de serem pedidas. Desculpas erradas no momento certo ou certas no momento
errado.
Vem-me à cabeça aquele pequeno cachorro daquele filme besta
do “Máskara”. Não sei por quê. A lembrança é tão lacônica quanto o pedido de
desculpas. Sei lá. Mas, mais uma vez: Minhas sinceras desculpas.
Anderson Mendes Fachina
Nenhum comentário:
Postar um comentário