quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Tempo

“Que é, pois, o tempo? Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? Quem poderá aprender, mesmo só com o pensamento, para depois nos traduzir por palavras o seu conceito? E que assunto mais familiar e mais batido nas nossas conversas do que o tempo? Quando dele falamos, compreendemos o que dizemos. Compreendemos também o que nos dizem quando dele nos falam. O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei.”


As palavras iniciais de Santo Agostinho no livro XI “O homem e o tempo”, item 14 “O que é o tempo?”, constante de sua principal obra “Confissões”, traduzem fielmente aquilo que a grande maioria de nós pensa acerca da questão do tempo, ou seja, quase nada. Quando tratamos pessoalmente a questão, dizemos que o tempo é infinito, que não pode ser medido, que tem importância para nós enquanto encarnados, etc., etc. e etc. Mas, quando a questão foge ao parâmetro pessoal e nos vemos na qualidade de expositores do tempo, enxergamos que a questão é muito mais profunda que a superficialidade que empregamos outrora. Não que essa superficialidade seja inadequada para tratar da questão, mas quando evocamos nossa capacidade de reflexão e nossas concepções filosóficas começam a atuar sob nossa mente, chegamos a uma conclusão também superficial, mas, reveladora: há muito mais a se pensar sobre o tempo do que podemos neste momento. Pronto, encerramos então a questão: O tempo não deve ser discutido de maneira mais profunda porque não dispomos de capacidades que o possam delinear como tal. Certo? Não?

Para aqueles que se dispuseram a pensar sobre o tempo, vemos que o simples encerramento da questão não é caminho louvável, já que as concepções filosóficas que carregamos conosco não nos deixam outra saída senão filosofar ainda mais, investigar ao máximo a questão, para saciarmos nossa sede. No capítulo VI da Gênese dizem os espíritos:

“Como a palavra espaço, tempo é também um termo já por si mesmo definido. Dele se faz idéia mais exata, relacionando-o com o todo infinito. O tempo é a sucessão das coisas. Está ligado à eternidade, do mesmo modo que as coisas estão ligadas ao infinito. [...] Dentro desta ordem de idéias, fácil nos será conceber que, sendo o tempo apenas a relação das coisas transitórias e dependendo unicamente das coisas que se medem, se tomássemos os séculos terrestres por unidade e os empilhássemos aos milheiros, para formar um número colossal, esse número nunca representaria mais que um ponto na eternidade... [...]... a eternidade não é suscetível de medida alguma, do ponto de vista da duração; para ela, não há começo, nem fim: tudo lhe é presente. Se séculos de séculos são menos que um segundo, relativamente à eternidade, que vem a ser a duração da vida humana?!”
Num primeiro momento, numa observação bem rápida, percebemos que os espíritos procuram encerrar a questão fechado o tempo como sendo uma sucessão de coisas. Mas, se colocarmos nossos olhos sob a questão que encerra o exposto, vamos voltar a nos perguntar: o que é o tempo então, se sendo uma sucessão de coisas ele representa quase nada para a eternidade? E vemos que, na verdade, os espíritos dizem mais do que as palavras traduzem.

Para encerrar a questão, ou melhor, começá-la novamente em outros níveis, voltemos a Santo Agostinho. Diante de sua reflexão, Agostinho invertia a perspectiva acreditando que nós não vivemos dentro do tempo e sim ele habita em nossa mente. Para fundamentar sua conclusão, utilizou da lógica de que o que existe, existe, ou seja, é. Então pensou: Se o passado já passou, não o é mais, então não existe. Se o futuro ainda não chegou, não o é ainda, então também não existe. O que fica então? O presente? Também não, porque ele só existe em se comparado ao passado e futuro.

Dentro desta perspectiva, onde chegamos a constatação agostiniana de que o tempo como o concebemos não existe, nos posicionamos em tese ainda mais preocupante. Se não há presente, futuro ou passado, o momento que passamos agora é o mais importante de toda a nossa existência. E assim o sendo, deve ser encarado como tal. O que estamos fazendo com o nosso tempo então? Vivemos dentro da lógica de que tudo é tão precioso dentro de nossa evolução que não há como deixar de ser espírita por um só minuto. Façamos então que nosso tempo seja construído da melhor forma possível, sempre no caminho do bem.

Fontes: Santo Agostinho. Confissões. Nova Cultural, São Paulo: 1999, pág., 322-340 e A Gênese – Os milagres e as predições segundo o espiritismo. Capítulo VI pág. 103-107.

Anderson Mendes Fachina

Texto originalmente publicado no site Rede Amigo Espírita em 19 de janeiro de 2011: http://amigoespirita.ning.com/profiles/blogs/tempo-1

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