sábado, 12 de março de 2011

Dia Internacional da Mulher - Sou contra!

Eis que após uma noite mal dormida, tomando minha caneca diária de café, buscando nela a coragem necessária para vestir a botina e ir para o trabalho, ligo a TV para assistir um pouco do noticiário matutino, enquanto o café não termina e me deparo com primeira notícia boa do dia: vários peitos e bundas, cuidadosamente esculpidos por magos do bisturi, todos ali, estampados na telinha mágica, jogados na minha cara, sem nenhum pudor, sem nenhum respeito pela minha sonolência matutina (que confesso ter acabado no início da matéria).
Após me deliciar com a deliciosa exposição de peitos e bundas das carnavalescas, me deparo com a primeira notícia ruim do dia: Era o Dia Internacional da Mulher. Trocaram aqueles lindos peitos e bundas (que estavam alegrando o meu início de dia) por uma mulher de meia idade, usando terninho, moderna, executiva, tipo “gerente durona”, cujo único objetivo de vida é esculachar seus subordinados homens. Uma mistura de Edinanci Silva com Margareth Tatcher.
A matéria mostrava o “sucesso” da mulher moderna. Fiquei digerindo por alguns instantes o que significava esse Dia Internacional da Mulher. Puxa vida, Dia Internacional! Não é uma data que é comemorada só em Uberlândia, em Minas e nem só no Brasil. Se é internacional, só pode ser comemorado no mundo todo.
Não estava disposto a sair cumprimentando todas mulheres que via, e para não me comprometer, cumprimentei duas mulheres: Minha namorada e a namorida de um amigo que estava preparando o almoço pra gente. Falei ainda com a minha mãe, mas me recusei a cumprimentá-la, afinal ela já tem um dia especial(que não sei se é ou não internacional), só para ela, que é o dia das mães, não é?!?!
Digerindo um pouco mais a matéria (não a das carnavalescas, a do Dia Internacional das Mulheres), percebi que ela nem citava o motivo que em todo dia 08 de março comemoramos o Dia Internacional das Mulheres. Neste dia, do ano de 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve ocupando a fábrica, para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas. Estas operárias, que recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde, entretanto, se declarara um incêndio, e cerca de 130 mulheres morreram queimadas.
Continuei pensando a respeito do Dia Internacional das Mulheres, e cheguei a uma conclusão: sou contra o Dia Internacional das Mulheres.
Se nossa sociedade tipicamente paternalista reserva um dia no ano para comemorar e refletir sobre o papel da mulher em nossa sociedade, de alguma forma, significa que em todos os outros dias do ano, essa discussão é esquecida.
Poderia refletir de uma outra forma. Se existe um dia para homenagear as mulheres, indica que muitas mulheres ainda não conseguiram conquistar os direitos fundamentais. Significa que as mulheres, assim como os Negros, ainda não minorias (não em quantidade, mas em acesso aos direitos fundamentais) afinal, não temos o Dia Internacional dos Brancos ou o Dia Internacional dos Burgueses ou pelo menos o Dia Internacional do Gerente Mala. Porque não existem esses dias? Pelo fato de que brancos, burgueses e gerentes malas não são minorias (para nossa infelicidade, a menos que você seja um gerente mala o_O).
O Dia Internacional das Mulheres, como é tratado pela grande mídia (e pela massa de mulheres que se acham especiais por ter um dia internacional para elas) esconde algo fundamental: esconde as milhares de mulheres nordestinas que sofrem com a seca nos sertões, esconde as mulheres que são excluídas de direitos mínimos em regimes tirânicos como os que estão sendo derrubados no Oriente Médio e o ainda resistente Irã, esse dia escamoteia a vida dura de superação que muitas mulheres mães como a minha e a sua tiveram, escondem a história de mulheres como Louise Michel, Emma Goldman, Francisca Saperas, mulheres anarquistas que dedicaram suas vidas por uma causa.
Infelizmente, o Dia Internacional da Mulher, não lembra das Mães da Praça de Maio, argentinas que se reuniram na Praça de Maio em Buenos Aires para exigirem notícias de seus filhos desaparecidos durante a ditadura argentina.
E pior, escondem também toda insegurança que ficam por trás dos terninhos elegantes das executivas que conquistaram lugares importantes (acho que ainda tem muito espaço que precisa ser conquistado pelas mulheres no comando do mundo) mas que ainda acham que para se superarem precisam sempre ser melhores que os homens.
A comemoração do Dia Internacional das Mulheres esconde por fim, a realidade crua de que planeta é ainda, não obstante as conquistas da mulher, totalmente paternalista. A grande maioria dos que decidem o rumo do mundo, infelizmente, ainda são homens, assim como nos muitos lares, cuja família sofre com as decisões do chefe da família, que é respeitado e temido.
Enfim, para mim, a comemoração do Dia Internacional da Mulher é um grande blefe. É algo como: “Mulherada, olha só, demos um dia para vocês lembraram que queimamos mulheres numa empresa, por favor, fiquem contentes, cuidem dos nossos filhos e não roubem nossos trabalhos”.
Ficarei feliz no dia que não precisaremos mais comemorar o Dia do Negro, o Dia do Índio, o Dia do Trabalhador ou o Dia das Mulheres. Não porque deixou de ser rentável para o Comércio ou porque essas minorias caíram no esquecimento. Mas deixaremos de comemorar pelo fato de não serem mais minorias, como os Brancos, Burgueses e Homens.
Terei o prazer e dizer: Feliz dia de Nada.

Krisnatágoras Araújo

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