terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Crônica contemporânea

Precisamos [pelo menos] mexer o corpo



Essa foi a frase que deu fim ao transe. Momentos apaixonantes, lembra?

Ele tenta se perguntar quando tudo começou. Já olhou atentamente seus arquivos temporais e não encontrou essa resposta. Uma coisa é certa: Não começou agora. Afinidade é uma coisa atemporal, não está restrita a um encontro existencial e muito menos faz parte de um leilão onde se tem menos ou mais... Tem-se e ponto!

Esse pensamento deveria mover o mundo. O que acontece é que as pessoas vivem sob a égide dos contratos sociais. Fazemos um teatro onde não deveria existir um. A realidade, infelizmente, não é real. Mas essa não é a questão de agora.

Ele a fitava, como quem via o céu numa noite cheia de estrelas. Mas isso acontecia por poucos segundos. O brilho intenso que ela tinha, era maior do que a capacidade receptiva dele. “Ta vendo aquela lua que brilha lá no céu. Se você me pedir eu vou buscar só pra te dar. Se bem que o brilho dela nem se compara ao seu”. A negativa de sua parte aconteceu mesmo antes do entendimento do final da frase. “Não posso dar-te um presente menor que você”. Músicas! Elas realmente traduzem nossa alma, nossos sentidos. Aliás, podemos, em vários momentos, montar uma trilha sonora específica acerca dos eventos que tomam de assalto nossas emoções.

Quando menino ele não costumava acreditar nessas coisas. Seu ceticismo era inversamente proporcional a sua confiança. E olha que se buscasse alguma análise veria que talvez não tivesse confiança alguma. Agora, ele se enche de si mesmo, como quem anda plenamente por uma selva, sem se importar com os animais perigosos. Sabe por quê? Reciprocidade! Outra palavra mágica...

Aqueles mesmos olhos que a fitavam brevemente também eram observados de maneira especial. Algo, no fundo de sua alma dizia que todo aquele clima tinha encontrado, agora sim, um cenário perfeito. Agora sim um teatro... Um teatro da vida real.

O script estava correto, as atuações perfeitas, e o resultado não poderia ser outro. Mesmo que, por algum momento, pudéssemos pensar ao contrário. Como se não bastasse, o cenário estava repleto de atrativos, que extrapolavam o mero sentido da audição. Era algo muito maior, que entrava por entre os poros e tocava diretamente todo o corpo. Era impossível não sentir. Era impossível fazer-se de mero espectador, quando na verdade, a situação exigia mais. O cheiro, o contato, o esvoaçar dos cabelos, os passes, o balançar dos corpos, tudo muito bem conectado. Como diria o célebre astrônomo Carl Sagan, “a quarta dimensão”...

Sem dúvidas, precisamos traçar um plano.

Anderson Mendes Fachina

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