sexta-feira, 15 de abril de 2011

Mea culpa, das concepções de Schopenhauer ou da filosofia barata

Parte 1 - Cego e irracional?

... por mais maciço e imenso que seja este mundo, sua existência depende, em qualquer momento, apenas de um fio único e delgadíssimo: a consciência em que aparece. [...] O mundo como representação, isto é, unicamente do ponto de vista de que o consideramos aqui, tem duas metades essenciais, necessárias e inseparáveis. Uma é o objeto; suas formas são o espaço e o tempo, donde a pluralidade. A outra metade é o sujeito; não se encontra colocada no tempo e no espaço, porque existe inteira e indivisa em todo ser que percebe: daí resulta que um só desses seres junto ao objeto completa o mundo como representação, tão perfeitamente quanto todos os milhões de seres semelhantes que existem: mas, também, se esse ser desaparece, o mundo como representação não mais existe”. Shopenhauer – O mundo como vontade e representação
Apesar de tomar emprestadas as concepções antes formuladas por Immanuel Kant (1724-1804), Arthur Schopenhauer (1788-1860), o filósofo mais pessimista da história, acabou por construir um pensamento original quando apresentou sua teoria sobre a vontade do ser humano. Para Schopenhauer, a vontade é fundamento, mas sem ela própria apresentar fundamento. Em outras palavras, a vontade não se submete ao princípio da razão que rege nosso universo de representação.

Sem parecer demais complicado, visto que, desde o início vou deixando minha “mea culpa”, muito pela falta de aprofundamento filosófico, muito pela associação com minhas próprias concepções de vida, muito pela inexorável ação do tempo, que vai nos deixando cada vez mais insanos, seja pela morte natural de nossos neurônios, seja pela morte (natural???) de nossos sonhos, seja pela constatação de que a vida é o princípio do fim, gostaria de deixar claro que o intuito desta série não é propagar o princípio do “estamos no fundo do poço” e sim discutir o porquê chegamos a essa condição (se você constatar que em nenhum sentido está no fundo do poço, de verdade, não precisa ler o resto... é perda de tempo). Tudo isso, é claro, calcado na valorização imensa do humor, na valorização imensa da ironia (que nos toma de assalto todos os dias de nossa vida), na valorização imensa da livre manifestação (dois de meus melhores amigos já se dispuseram a debater o tema). Vou tentar também ser o mais sucinto possível, evitando posts longos e chatos (há como não ser chato?), sem se descuidar do fechamento da idéia ora iniciada. Mas se não concluir nada, também sei que o princípio filosófico foi mais uma vez usado de maneira produtiva, pois somos o que pensamos. Certo? Eu penso...

Concluindo este abre-alas:

Para Schopenhauer, a vontade é um princípio fundamental da natureza, independente de como ela aconteça. Assim, mesmo quando uma pedra rola morro abaixo, a objetivação desta ação tem sua natureza no corpo. Assim sendo, qualquer tendência por ai advinda não passa de um disfarce sob o qual se oculta uma vontade única, que não se submete as leis da razão única e exclusivamente por não depender desta.

Acontece então que quando o ser humano apresenta sua vontade, ou seja, faz uso daquilo que lhe é de mais imediato, indistintamente, não atua de maneira racional, mesmo que inconscientemente. Aliás, o inconsciente é um prato cheio a concepção de Schopenhauer. Para ele, “A consciência é a mera superfície de nossa mente, da qual, como da terra, não conhecemos o interior, mas apenas a crosta”. Assim sendo, nossa consciência é limitada e, por isso mesmo, fica sempre refém do inconsciente, muito maior e de grande atuação em nossas ações.

Por que falar de vontade?

Todas nas nossas relações estão baseadas na vontade de algo. Todas, indiscriminadamente. Mesmo que, como diria Schopenhauer, isso seja inconsciente, ou mesmo escondido marotamente por conveniências temporais da convenção vigente. Aliás, convenção vigente é outro de nossos temas futuros.

Por enquanto ficamos por aqui, sempre refletindo acerca da vontade (a vontade é cega e irracional?). Com o decorrer dos posts, espero que o assunto flua melhor e que apresente boas discussões com vistas a nossa vida e aos nossos relacionamentos.

Anderson Mendes Fachina

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