terça-feira, 26 de abril de 2011

Eternal Sunshine of the Spotless Mind

Feliz é a inocente vestal!
Esquecendo o mundo e sendo por ele esquecida.
Brilho eterno de uma mente sem lembranças
Toda prece é ouvida, toda graça se alcança
Alexander Pope

Ele descobre que ela o apagou da memória. Num impulso de raiva e desespero ele procura o mesmo. Durante o processo, enquanto sua memória é vasculhada para o apagamento, ele se dá conta de que ainda a ama. Mas o processo mental está em curso. Ele esta desacordado com a cabeça cheia de aparelhos e fios. Sua mente trabalha no sentido de brecar o processo. Ele tenta, tem sucesso relativo. Mas o processo é irreversível. As lembranças dela estão sendo sumariamente apagadas. É o fim.

Este é o enredo de um dos filmes que está no meu Top 100: “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”. Ontem, pela indicação de uma amiga, li um texto que citava o filme e me lembrei que havia escrito sobre ele (havia o usado como pano de fundo). É realmente um filme cativante, que sabe captar a alma de um relacionamento confuso, um encontro inesperado e uma história de amor. Além do que as interpretações de Jim Carrey (saindo daquele humor piegas), Kate Winslet, Kirsten Dunst, Mark Ruffalo, Elijah Wood e Tom Wilkinson são, sem dúvida, uma das melhores de suas vidas. Peguei este arquivo, à tarde assisti novamente ao filme e trabalhei mais uma vez o texto. Precisava escrever. Precisava pensar em algo. Precisava ocupar meu coração com algo. Espero que todos gostem:

Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças

Ele corre pela areia. A vê a distância. Sua visão é a chama para a rapidez que opera neste momento. Não há falta de ar, não há suor e não há cansaço que o faça parar de correr neste momento. Run, Lola, Run. Mas corre e a imagem se afasta. Corre mais. Corre como nunca. Quando enfim se aproxima, ela desaparece. Sua imagem se foi, desintegrou-se no espaço.

Ele fica desapontado. Olha para o horizonte sem entender o que está acontecendo. A história de sua vida estava ali, mas lhe escapou por entre os dedos. Ele senta na areia e chora. Chora. E a cada lágrima uma passagem lhe vem à mente. Sua mente está conturbada, confusa. Ele não sabe mais o que pensar. Vê tudo aquilo com uma maravilhosidade ímpar, ao mesmo tempo em que tudo passa num frenesi tão incontrolável que o entorpece. Ele está entorpecido olhando para o mar, olhando para as ondas, olhando para dentro de si.

A pergunta que sempre lhe ronda a mente vem á tona: onde foi que eu errei? Onde? Ele a amava. Ela sabia disso. Ela o amava. Ele sabia disto. Num rompante de embriaguês mental ele fecha os olhos. Ao abrir, não está mais frente ao mar. Esta em casa, na sua cama. Olha para o teto, o ventilador funciona em câmera lenta. Então ele olha do lado e a vê, ali, dormindo profundamente. Tenta acordá-la. Ele não responde aos seus estímulos. Ele olha para o espelho na parede e não vê o seu reflexo. Somente ela, ali, dormindo profundamente. Levanta-se nervosamente. Está sem seu pijama favorito. Ele olha novamente e vê que não está mais em casa. Não está no quarto dela. Tudo é estranho, tudo é novo e assustador. Entra em pânico. Grita em direção aquele corpo imóvel. O corpo se mexe, sem sucesso. Nada é mais como era antes.


Numa fração de segundos, lembra do início deste processo doloroso. Ela queria esquecê-lo, tirá-lo de vez da sua vida. Por qual motivo mesmo? Para ele aquilo ainda não estava claro. Muita água havia passado por debaixo da ponte sem que ele percebesse. Sua mente agora lhe fala: “É isso, se ela não te quer, não há motivos para querê-la”. Houve-se um estalo ensurdecedor. Mais uma vez ele olha para o espelho. Agora se enxerga. Está ali, feio, forte e formal. Sua face está irreconhecível, mas é ele. Seu coração está machucado, mas é ele. Suas roupas já não são as mesmas, mas é ele. Sua alma foi corrompida, mas é ele. Havia feito coisas que não queria, mas, sem dúvida era ele. Ele sorri, nervosamente. Ele sorri amarelo.

Ela enfim parece acordar. Ele se assusta. Estava tomado por si mesmo. Lembra também o porquê daquilo tudo: A amava. Ela abre sorrateiramente os olhos. Ele, também sorrateiramente sai de seu campo de visão e a olha a distância. Ainda meio sonolenta ela diz: “amor, você está aí?”. Ele não responde. Ele emudece. Ela se vira do lado e parece voltar a dormir. Ele se desespera: “o que estou fazendo?”. Mais uma vez se aproxima. A toca e neste momento, mais uma vez ela some. Ele olha ao redor. Está sentado em sua sala vendo TV. Está sentado. Teve sua oportunidade e não aproveitou. Não aproveitou.

Anderson Mendes Fachina

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